Yoga muda cotidiano de alunos da comunidade do V8, em Olinda

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Técnicas de respiração e concentração têm melhorado desempenho das crianças na escola, dentro de casa e frente a realidade violenta do dia a dia no local

Aura Gabriela Maximiliano, de 28 anos, é publicitária e nas “horas vagas”, usa seu tempo para impactar crianças e adolescentes das comunidades V8 e V9, no bairro do Varadouro, em Olinda, por meio da yoga e da meditação. Os exercícios são combinados com aulas de educação financeira, numa tentativa de influenciar a realidade de moradores, cujos relatos cotidianos comumente envolvem casos de violência e tráfico de drogas.

As aulas duram 20 minutos e envolvem alunos da Escola Municipal Santa Tereza, com faixa etária que varia de 7 a 14 anos. É numa sala pequena, com as paredes amarelas e muitos desenhos colados na parede que são realizadas as aulas. Junto à professora de educação física Érica Farias, Aura ajuda as crianças a exercitarem a respiração, concentração e relaxamento – o que ajuda na desenvoltura da saúde mental dos alunos.

Thalyta Tavares / Esp. DP

Primeiro elas levantam as mãos, como se fossem tocar o céu, antes de fechar os olhos e imaginarem lugares repletos de diversão. Tudo conduzido por um som relaxante que ecoa com a ajuda de uma tigela tibetana, levando os alunos a um lugar relaxado dentro de suas próprias mentes.

Thalyta Tavares / Esp. DP
Thalyta Tavares / Esp. DP

Para Joyce Santos, de 7 anos, a meditação é a parte preferida da manhã. “Tem dias que estou estressada e tem muita tarefa para fazer. Mas quando tem aula de meditação com Tia Aura, eu fico bem mais calma. Me ajuda a fazer as tarefas depois”, comenta. Já, para Helena Alves, a parte mais divertida é a música, que toca ao final de cada aula. “Eu gosto da música que a professora canta em outra língua. Eu não entendo, mas me deixa tranquila e faz eu me sentir segura”, comenta a menina, sobre o mantra cantado em sânscrito – idioma indo-árico antigo da Índia.

Segundo a psicóloga do Centro de Pesquisas do IMIP Aline Campelo, esse estímulo da mente e do corpo faz com que a pessoa passe a se conhecer mais e desenvolver a própria potencialidade. “Nesse processo em que é trabalhada a respiração e concentração desses alunos, eles se dão conta como cidadãos, como ser. É um caminho para redescobrir o potencial interior, que muitas vezes é esmagado pela sociedade e pelos próprios pais e eles passam a entender que são valorizados como pessoa”, explica.

Praticante de yoga desde os 16 anos, a paulista que vive em Pernambuco há três anos, teve a ideia de levar a atividade às salas de aula de Olinda depois que, ao chegar de uma temporada no exterior, foi vítima de três assaltos violentos em apenas 15 dias na cidade. Para ela, mudar de cidade não mudaria a realidade de Olinda e por isso, estruturou uma ONG sem fins lucrativos para ajudar as comunidades na região. Usando a experiência de ter atuado por três anos junto ao Greenpeace Brasil, ela criou o Instituto Inova Aí, que saiu do papel em 2015.

Os resultados são visíveis dentro das salas de aula, dentro de casa e na própria comunidade. Rodrigo Ferreira, 40, é pai de Maria Beatriz e Maria Letícia, de 8 e 9 anos respectivamente e conta que percebeu mudanças além da escola. “As notas delas melhoraram bastante, mas é o comportamento que me deixou surpreso. Como pais, eu e minha mulher fazemos de tudo para ter o melhor relacionamento familiar, porém, todo casal tem suas brigas. Se eu levanto um pouco o tom de voz as duas já vêm falando ‘papai, fique calmo, não tem motivo para ficar estressado, é só respirar’ e sigo o conselho delas. Isso tem afetado o comportamento dentro de casa e na rua, com terceiros”, conta o supervisor administrativo.

Além das crianças, Aura percebeu que os pais também precisam de certas orientações e apoio, o que reflete na vida dos jovens. Para ajudar os responsáveis pelos alunos a entenderem a importância de uma boa administração do dinheiro dentro de casa, ela abriu então um minicurso de educação financeira para adultos. Ela conta que o impacto que o curso tem dentro de casa é, na maioria das vezes, visível. “Aprendendo a controlar e sabendo como gastar melhor o dinheiro, os pais são capazes de proporcionar uma melhor qualidade de vida para os filhos e, consequentemente, para eles próprios. Com essa melhor administração, até mesmo os relacionamentos pessoais são afetados de uma boa forma”, explica.

Thalyta Tavares / Esp. DP

A ONG Inova Aí não tem sede e ministra as aulas de escola em escolas com as quais mantém parceria. Contando apenas com ajuda de voluntários, o projeto pretende se expandir para outras comunidades. Nos planos estão aulas na comunidade do Coque, no bairro da Joana Bezerra, no Recife.

Thalyta Tavares / Esp. DP
Eduarda Bagesteiro

Eduarda Bagesteiro

Repórter

Eduarda é estudante da Universidade Católica de Pernambuco e estagiária do Diario desde março.

Thalyta Tavares

Thalyta Tavares

Fotógrafa