Vídeos ASMR ajudam pessoas com distúrbio do sono

ASMR Darling/Youtube

Às vezes, mesmo quando faz frio, algumas pessoas não se desfazem do ar condicionado ou ventilador. Dormir sem o som das hélices girando ou do motor acaba se tornando um grande desafio. A sensação de relaxamento e sono causada por estímulos auditivos como esses tem um nome. Se chama Autonomous Sensory Meridian Response (ASMR) – ou, em português, Resposta Sensorial Meridiana Autônoma.

Alguns youtubers estão dedicando seus canais para explorar essas reações e oferecer conforto e relaxamento. O público alvo, em tese, é quem sofre com alguma dificuldade para dormir e ansiedade. Afinal a demanda não é pouca. Uma pesquisa realizada pelo ISMA-BR (International Stress Management Association no Brasil), em 2016, constatou que 38% dos trabalhadores brasileiros sofrem com algum distúrbio de sono.

 

Nos vídeos, geralmente longos, o objetivo é claro: colocar os fones de ouvido e descansar o corpo e a mente. Uma voz calma e sutil, aos sussurros, guia o espectador por uma conversa como se fosse alguém intimo e que está totalmente dedicado para ajudá-lo. Além da voz, o youtuber também pode utilizar objetos e gestos que despertem estímulos auditivos e visuais.

Mexer em recipientes com líquidos, abrir tampas de frascos de perfumes, folhear páginas de livros e até tocar em copos. Esses são, por exemplo, alguns dos métodos usados nos vídeos a fim de fazer a “massagem cerebral” – como a dona do canal ASMR Darling, Taylor, denomina seu trabalho. Mas além dos sons, o profissional também pode fazer gestos de carinho em direção a câmera. O que causa a impressão de contato físico.

Isso tudo, a primeira vista, parece algo sem sentido. Mas os efeitos dos vídeos ASMR são reais. Algumas pessoas, que relatam sua experiência nos comentários dos vídeos, afirmam não sentir nada e até se entediam. Mas muitos garantem que sentem formigamento na nuca, nos ombros e na coluna, como se recebessem uma verdadeira massagem.

A grande questão, por outro lado, é o que não se pode ver ou sentir. O psicanalista e professor da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS) e Fafire (Faculdade Frassinetti do Recife), Pedro Gabriel da Fonsêca, alerta para a substituição do contato interpessoal pelo virtual. “A vida humana, segundo o filósofo Friedrich Netzsche, é um produto dos encontros com as coisas. Se recusar ao outro é o mesmo que recusar-se a vida”, pontuou.

Para ele, a virtualização das relações é um sintoma desta geração. Quando o ser humano se nega a ter experiências com a vida concreta, opta pela solidão e individualismo, está se distanciando do seu funcionamento próprio. Afinal, o ser humano é um ser social. Na opinião do especialista, as pessoas que trocam os contatos reais não encontrarão satisfação plena nas relações virtuais. “A construção histórica da espécie humana é de trocas”, salientou.

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