Tudo o que você precisa saber sobre espinhas (e como livrar-se delas)
Mais da metade dos brasileiros sofrem com espinhas e, segundo médicos, boa parte das “soluções caseiras”, disseminadas entre a população, não funciona
Ter uma pele sensível ou propensão a espinhas pode ser um desafio ainda maior para quem mora em estados nordestinos como Pernambuco, porque o calor piora a situação das acnes. Especialistas revelam que viver em lugares quentes não ajuda na hora de se livrar do inconveniente. “Os ambientes quentes e úmidos podem estimular a secreção sebácea, não é uma questão de causar a espinha, e sim de piorar a situação”, explica a dermatologista e professora da Universidade Federal de Pernambuco, Fátima Brito. Apesar de não haver pesquisas específicas conectando as temperaturas regionais do país à incidência da doença, sabe-se que 56,4% dos brasileiros têm problemas do gênero, de acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Para entender a relação da secreção sebácea com a acne é bom entender que a doença surge quando os folículos, pequenos poros no rosto, são entupidos por alguma oleosidade ou sujeira. Esse entupimento faz com que haja um acúmulo de células mortas no local, formando cravos, o primeiro grau da acne. O cravo torna os poros espaços ideais para inflamações e para a proliferação da bactéria Propionibacterium acnes, podendo acumular pus e até mesmo formar grandes cistos.
Esse entupimento faz com que haja um acúmulo de células mortas no local, formando cravos, o primeiro grau da acne. O cravo torna os poros espaços ideais para inflamações e para a proliferação da bactéria Propionibacterium acnes, podendo acumular pus e até mesmo formar grandes cistos.
Na adolescência, a incidência chega a 90%. “Meu rosto foi bem castigado. Não tinha muitas espinhas, mas a acne não respondeu a nenhum tratamento. Além de ser ruim em qualquer fase da vida especificamente, eu ligava muito para a estética”, explica o estudante Lucas Alves, que conviveu com a doença até os 20 anos, quando precisou fazer um tratamento mais radical para se curar. “Nessa época, aparecem os hormônios androgênicos. Eles aumentam e estimulam a secreção sebácea, formando a acne”, explica Fátima.
Passar pasta de dente ou outras pomadas no rosto e usar máscaras faciais caseiras são algumas das ações popularmente aconselhadas para o tratamento da acne, mas a eficiência dos métodos é contestada pelos médicos. A pasta de dente, por exemplo, contém substâncias na sua fórmula que podem irritar ainda mais a face.
A utilização de pomadas, que têm uma apresentação mais oleosa, também pode piorar o entupimento dos poros. “Toda medicação para tratamento de pacientes com acne deve ser prescrita e orientada por dermatologista”, enfatiza a professora e preceptora da Dermatologia do Hospital das Clínicas, Márcia Helena Oliveira.
Maquiagem
O uso de maquiagem também bloqueia os poros, logo, é desaconselhada. Se for necessário, é preciso cuidados. “É bom escolher uma maquiagem mineral, que não obstrui tanto. Depois, deve tirar com demaquilante e lavar bem o rosto”, lembra a dermatologista Márcia Horowitz.
Entre os conselhos “caseiros”, há os “nutricionistas de plantão” que dão dicas do que não comer quando se tem espinhas, o que inclui chocolates e frituras, por exemplo. Mas, nesse ponto, a voz do povo é também a dos dermatologistas.
“Alimentos com alto índice glicêmico, por estimularem picos de insulina no organismo, levam a uma maior produção de sebo e piora da acne (…) o consumo de leite de vaca e os laticínios derivados contêm certos hormônios que estimulam a formação da acne”, explica a professora Márcia.
Entre os alimentos de alto teor glicêmico estão doces, chocolate, bolos, batatas e arroz branco.
Marcas
Tratar acne é bem mais simples que tratar cicatrizes deixadas por ela. Há uma série de procedimentos que podem ser feitos para lidar com as manchas. “A gente geralmente faz tratamento com ácido, mas também é possível fazer procedimentos com lasers, uma técnica chamada de microagulhamento, e alguns peelings”, explica Horowitz.
Tratamento pode ser custeado pelo SUS
Quando os tratamentos comuns falham, uma abordagem mais forte, normalmente ao longo de seis meses se faz necessário. Muita gente conhece a isotretinoína oral, mais conhecida pela marca mais famosa, Roacutan, mas pouca gente sabe que os comprimidos podem ser adquiridos gratuitamente, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Foi o que descobriu a estudante Nívea Félix.
“Fiz tratamentos por 10 meses e depois as espinhas voltaram porque eu não tive acompanhamento de dermatologista ou ginecologista. Comecei a ter espinhas aos 12 anos. Já tinha tendência, mas aos 15 anos, procurei um médico e quis muito usar o remédio porque já estava quase entrando em depressão”, lembra.
Após passar por uma bateria de exames (quando descobriu, inclusive, problemas nos ovários que poderiam estar ligados à acne), passou a usar a substância com remédios fornecidos pela Farmácia do Estado, que, hoje, possui 500 pessoas cadastradas para receber a droga, distribuindo 32 mil comprimidos por mês.
A isotretinoína age ressecando as mucosas do corpo e geralmente é ministrada por cerca de 6 meses, de acordo com a reação do organismo do paciente. A bateria de exames para poder tomar o remédio é necessária porque há riscos envolvidos. “É preciso excluir a gravidez antes do uso e utilizar método contraceptivo eficaz durante e até três meses após a suspensão da medicação”, explica a professora Márcia Oliveira. Evitar exposição ao sol e ter alguns cuidados com a dieta, que devem ser definidos pelo médico, são essenciais. “Fora isso, é uma medicação tranquila quando é acompanhada pelo médico”, frisa a dermatologia Fátima Brito.
Lorena Barros
Repórter
Lorena é estudante de jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco.