Substâncias presentes em tubarões podem curar Parkinson e fibrose pulmonar

Pixabay/Reprodução

O animal mais temido dos mares pode prevenir um problema neurodegenerativo ainda sem cura: o Par-kinson. Um grupo internacional de cientistas — de instituições do Reino Unido, da Espanha, da Itália, da Holanda e dos EUA — descobriu que um esteroide presente no tubarão consegue impedir o acúmulo de alfa-sinucleína,  proteína cujo excesso está vinculado à doença. Chamada esqualamina, a substância foi replicada em laboratório e testada em vermes modificados para ter a complicação cerebral que acomete humanos e teve resultados promissores. Os autores do estudo, publicado na revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences, a Pnas, acreditam que os achados poderão ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos para a doença e outros problemas cognitivos.

Mesmo possuindo um sistema imunológico considerado primitivo, tubarões são resistentes a infecções, o que intriga cientistas e estimula pesquisas diversas. “Suspeitávamos que esse animal produzisse compostos protetores. Examinamos os tecidos do tubarão melga, porque é um peixe extensivamente estudado em laboratório, e descobrimos um potente composto antimicrobiano em seu fígado”, explica ao Correio Michael Zasloff, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos.

Zasloff estuda a esqualamina há mais de 20 anos. A substância descoberta em 1993 é sintetizada —  replicada em laboratório, sem a necessidade de utilizar substâncias retiradas do peixe.  Ele e colegas partiram em busca de aplicações médicas em que a molécula pudesse ser utilizada. Apostaram no Parkinson e, para testar o composto, utilizaram vermes Caenorhabditis elegans. Modificadas geneticamente, as cobaias, à medida que envelheciam, acumulavam a proteína alfa-sinucleína nos músculos, o que causava danos celulares e paralisia.

Sistema imune protege do câncer

Duas características intrigantes dos tubarões — a cicatrização rápida e a maior resistência ao câncer — podem estar ligadas à mesma condição genética. Feita por um grupo de cientistas dos EUA, a descoberta foi divulgada na revista BMC Genomics e abre a possibilidade de desenvolvimento de intervenções que podem beneficiar humanos.

“Usando abordagens genômicas para compreender a gênese da imunidade desses animais, nós abrimos a possibilidade de chegar a muitas descobertas emocionantes, algumas das quais com potencial para se traduzir em benefício médico humano (…) Acabamos de aprender o que esses animais antigos podem nos ensinar e, possivelmente, nos fornecer em termos de benefícios biomédicos diretos”, ressalta, em comunicado, Mahmood Shivji, um dos diretores da Universidade Nova Southeastern e coautor do estudo.

O estudo foi feito com tubarões martelo e branco. Dois genes imunes dessas espécies chamaram a atenção da equipe: o legumain e o bag1. Eles têm homólogos em humanos e a expressão exagerada está ligada ao surgimento de cânceres. Nos grandes animais marinhos, no entanto, houve uma seleção natural evolutiva que os distanciou dos carcinomas.  Quanto à cicatrização, em comparação com peixes ósseos, as espécies de tubarão não só tinham uma proporção muito maior de genes envolvidos na imunidade mediada por anticorpos, como várias dessas proteínas eram exclusivas deles.

“Essa maior proporção poderia ser uma razão-chave por trás da luta contra infecções e rápida cura de feridas”, diz Michael Stanhope, da Universidade de Cornell, e líder da pesquisa com Shivji. Os autores ressaltam, porém, que a ingestão de partes de tubarões não vai curar e prevenir o câncer ou melhorar o tratamento de feridas. Ao contrário, pode até ser prejudicial à saúde devido ao altor teor de mercúrio nesses animais. As informações são do Correio Braziliense.

Mais uma esperança

Outro caso envolvendo tubarões e ciência foi divulgado pela BBC Brasil. Um remédio que imita anticorpos encontrados no sangue de tubarões é a nova esperança contra uma doença incurável do pulmão, a pneumonia intersticial idiopática ou fibrose pulmonar idiopática (FPI). Ao contrair a doença, ocorre a cicatrização do tecido pulmonar e o órgão perde sua elasticidade, levando a cada vez mais dificuldades para respirar.

O que os pesquisadores esperam é que o novo remédio possa começar a ser testado no ano que vem. A droga, AD-115, foi desenvolvida na Universidade La Trobe, de Melbourne, na Austrália por cientistas e pela empresa de biotecnologia AdAlta. Os testes iniciais tiveram como alvo as células causadoras da fibrose, criando uma proteína humana que imitava os anticorpos encontrados nos tubarões, conforme explicou Mick Foley, do Instituto de Ciência Molecular de La Trobe, para a BBC.

“A fibrose é o resultado final de muitas feridas e lesões diferentes”, disse Mick Foley. “Essa molécula pode matar as células que causam fibrose”.  O  AD-114 não envolve injeções de sangue de tubarão, segundo os pesquisadores – uma vez que o corpo humano rejeitaria essa substância imediatamente.

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