Substância da Ayahuasca pode ser chave para curar doenças neurológicas

Terpsichore / Creative Commons

Por Danilo Queiroz e Felipe Caian, do Correio Braziliense

Uma equipe de cientistas do Brasil constatou que a harmina, substância contida em grande quantidade na ayahuasca (planta base do chá usado nos rituais do santo-daime) contribui na regeneração de neurônios. O achado pode levar a tratamentos para doenças neurológicas, como o mal de Alzheimer. A pesquisa, realizada pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB-UFRJ), foi publicada esta semana na revista especializada Peer J.

Estudos realizados anteriormente haviam comprovado que a ayahuasca continha efeitos ansiolíticos (que combatem a ansiedade) e antidepressivos. Agora, os pesquisadores do país buscaram relacionar a harmina à criação de novas células neurais humanas.
Na experiência, os pesquisadores expuseram células com capacidade de se transformarem em estruturas neurais humanas à substância. “Nós criamos (em laboratório) progenitores neurais, ou seja, células humanas que vão dar origem a neurônios. Esse é o grande diferencial do nosso trabalho”, diz Stevens Rehens, um dos autores do projeto e pesquisador do Idor.

Proliferação

Depois de quatro dias, foi descoberto que a substância aumentou a proliferação de progenitores neurais humanos em 71%. “Colocamos uma quantidade de células em cultura, em uma placa, e expusemos essas células à harmina. Quando realizamos essa exposição, vimos que o nível dessas células aumentou de forma significativa”, explica o cientista. O resultado instigou a equipe a descobrir como a substância age sobre as células progenitoras. “Nós usamos uma série de ferramentas bioquímicas e concluímos que ela inibe uma enzima chamada DYRK1A. E o interessante é que essa enzima está extremamente ativada ao mal de Alzheimer e à síndrome de Down.”

Segundo Stevens, o resultado tem grande relevância. “Temos o diferencial de que foi feito com células humanas, e o estudo abre a perspectiva de se estudar a harmina com uma possibilidade de aplicação terapêutica”, considerou. Para o cientista, isso abre precedentes para que o tema seja mais explorado na comunidade científica. “Precisamos aumentar esse tipo de pesquisa no país”, completa Stevens. O grupo de pesquisa contou com o apoio financeiro das agências brasileiras de fomento Faperj, CNPq, Capes, Finep, BNDES e Fapesp.

Fonte: Correio Braziliense

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