Sarita, a cigana que garante trazer o seu amor de volta

Por Marcionila Teixeira

O amor é o centro de tudo naquele espaço místico. Na sala principal, duas velas acesas simbolizam a luz de tal sentimento. Para lá, seguem as pessoas ávidas por terem seus relacionamentos de volta. Sarita, a cigana, ouve as histórias. Adoça os sentimentos e reúne as vidas separadas. Vale para amores entre pais e filhos, casais heterossexuais ou homossexuais. Vale para amigos. Dia desses, uma senhora procurou Sarita para ter de volta a amizade de uma velha conhecida. Andava sofrendo muito sem a companheira por perto. Sarita só não junta vidas desconexas, condenadas à separação. Muito menos trabalha para separar as pessoas. O ambiente precisa emanar boas energias.

O nome Sarita, a cigana do amor, está marcado em cartazes colados em diversos pontos da capital e da Região Metropolitana. É “a única com rapidez e garantia de trazer o amor de volta”, diz o anúncio. As colagens nos espaços públicos do Recife já renderam à reponsável pela divulgação multas atualmente acumuladas em cerca de R$ 400 mil. Nunca foram pagas. A yalorixá Sahra Lemos, ou Sahra de Iemanjá, 36 anos, é adepta do candomblé e diz incorporar a cigana Sarita há cerca de dez anos. A entidade, conta a lenda, não se submeteu às regras do seu povo e saiu pelo mundo com a missão de trazer o amor entre as pessoas. 

Shilton Araújo/Esp.DP

Hoje, Sahra atende cerca de seis pessoas por dia em dois endereços: em Boa Viagem, no Recife, e no Janga, em Paulista. Antes da crise, o número era o dobro. A maioria de seus clientes, revela, são homens. “As mulheres ficaram mais independentes, ganharam autonomia. Em geral, os homens que me procuram ou brincam com as parceiras ou traem e depois se arrependem quando elas não querem mais. Mas se percebo que o homem foi violento com a mulher, não faço a reaproximação”, avisa.

No ambiente onde o sincretismo religioso se revela em imagens de santos católicos misturadas às de orixás, chegam às consultas com Sahra pessoas de todas as religiões. No dia da visita da equipe do Diario, uma senhora católica e moradora de Casa Forte esperava para mais um encontro com a yalorixá. “Desde 2011 sou acompanhada por ela. Sempre deu certo”, confessa. Certa vez, diz Sahra, uma senhora de idade avançada e muito católica pediu para Sarita interceder por ela em favor de um padre. “Nesses casos, não dá para fazer a união. Igual a uma mulher que me procurou porque era apaixonada por Shakira, a cantora”, lembra. 

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Sahra de Iemanjá trabalha com o jogo de búzios, o baralho cigano e o tarot. As consultas custam, respectivamente, R$ 90, R$ 120 e R$ 150. “As pessoas em Pernambuco têm pouco costume com os búzios. Elas não querem o conselho do santo. Meu preço é diferenciado, é mais alto. Sou diferente em tudo, na verdade. Na idade, pois sou muito jovem para ser yalorixá; no segmento espiritual, porque sou de matriz angolana; e por não fazer trabalho para qualquer pessoa”, pontua.

Pergunto para a yalorixá como identificar um charlatão. E ela lança algumas dicas. Primeiro passo é descobrir se a pessoa tem endereço e telefone fixos. Esse é um bom sinal. Se a pessoa costuma mudar de estado com frequência, é bom desconfiar. “Outra dica é não responder várias perguntas. Apenas nome e data de nascimento”, ensina.

Procuramos Sahra para mostrar o rosto por trás dos anúncios. Mas ela não topou. Alega riscos de sofrer preconceito. “As pessoas não entendem porque uma pessoa tão jovem como eu já é zeladora de santo ou mãe de santo, como costumam chamar. Mas minha mediunidade começou desde os sete anos. Aos 15, já jogava as cartas, acompanhada de minha mãe, que era da umbanda, e há nove anos já sou yalorixá”, lembra. Ao final da entrevista, Sahra lança uma esperança de um dia revelar a bela face. Para isso, o orixá dela precisará dizer sim no jogo de búzios. Até lá, permanece o mistério.

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Marcionila Teixeira

Marcionila Teixeira

Repórter

Marcionila é repórter especial do Diario. Integra a equipe do jornal desde 1996. Cobre a área de Direitos Humanos para a editoria Local.

Shilton Araújo

Shilton Araújo

Fotógrafo e videografista

Shilton é estagiário de fotografia do Diario desde agosto de 2016.