Recordes que duram décadas: o que esperar das Olimpíadas do Rio 2016?
No ano que vem, os olhos do mundo estarão direcionados ao Rio de Janeiro por 17 dias. Entre 5 e 21 de agosto a capital carioca sediará os Jogos Olímpicos de 2016 e receberá nada menos que 10,5 mil atletas de 206 países, em busca de quase mil medalhas na primeira edição do evento na América do Sul. Mas a expetativa vai além das disputas em jogo e chega à quebra dos recordes olímpicos vigentes ao início do evento. Quando há lendas vivas do esporte, como o corredor Usain Bolt ou o nadador Michael Phelps, às vezes, a tarefa pode parecer fácil, mas há recordes imbatíveis há quase 50 anos.
A mais antiga dessas marcas permanece intocada desde os jogos da Cidade do México, em 1968 – desde então já se foram 11 edições. A façanha de Michael Beamon, com a espetacular marca de 8,90m no salto em distância, lhe rendeu a medalha de ouro e o mais duradouro recorde olímpico em vigor.
A distância, em si, foi quebrada enquanto recorde mundial, em 1991, mas nenhum atleta olímpico, durante as disputas, conseguiu superar o feito do norte-americano, que, na época, superou o recorde anterior da modalidade em 55 centímetros.
Para se ter uma ideia da diferença com os demais competidores, Klaus Beer, da Alemanha, ficou com a prata daquele anos, com um salto de 8,19m. Uma diferença de 71 centímetros. Beamon é o mais duradouro entre os recordistas, mas não está sozinho entre os atletas com marcas imbatíveis. Levando em conta os recordes que não são batidos ao menos desde as olimpíadas de Seul, em 1988, há 6 edições, 12 marcas registradas em provas individuais seguem marcadas na história. A maioria delas, assim como a de Beamon, ocorreram no atletismo, em modalidades como o salto em distância, lançamento de peso e corridas de média distância e de velocidade. Outras duas foram no tiro, uma com pistola e outra com arco.
Recordes imbatíveis
Justificativa
Para o coordenador do curso de Bacharelado em Educação Física na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Bruno Lippo, alguns fatores podem ser apontados como justificativas para que algumas marcas não sejam alcançadas mesmo com o passar de várias décadas e com a mudança no modo como os atletas passaram a ser vistos: verdadeiras máquinas de alto desempenho. Para ele, não significa que o recorde de Beamon, ou dos outros atletas, seja impossível de ser alcançado, entretanto, para que isso ocorra, deve haver novamente a combinação que possibilitou essas marcas.
“Para que um atleta consiga bater um recorde, por exemplo dos saltos, arremessos e corridas no atletismo, se faz necessário um conjunto de fatores. Depende, por exemplo, da individualidade biológica do atleta. Ele necessita ter o seu corpo adaptado para aquela modalidade. No caso dos saltos, necessita de velocidade, força e potência muscular, além de alavancas (comprimentos das pernas) bem adequadas para se quebrar uma determinada marca”, explica. Em resumo, Michael Beamon é inatingível até que alguém possibilite novamente essa combinação de fatores.
No caso das marcas do tiro, Lippo aponta que além do treinamento do atleta – que, entre outras coisas, deve permanecer com os batimentos cardíacos relativamente baixos para não atrapalhar a tensão muscular – entra em jogo também a questão financeira. “O tiro com arco e o tiro com pistola são esportes caros que necessitam de investimento – desde o local para praticar, até o material utilizado. A quantidade de praticantes, portanto, é diminuída”, justifica.
Fatores peculiares ao país de origem dos atletas também podem representar segundos a menos e marcas fora de série. Os quenianos, por exemplo, são frequentadores assíduos de pódios em corridas de médias e longas distâncias. “O determinismo biológico também pode ser fundamental. Os atletas do Quênia, possuem um biotipo típico para essas provas, pois são magros e possuem predominantemente músculos vermelhos (possui muita mioglobina, uma proteína que ajuda no transporte de oxigênio), além desses atletas terem um sistema de enzimas respiratórias que favorecem o desempenho aeróbico em longas distâncias. E, normalmente, as pessoas no Quênia já percorrem grandes distâncias, uma espécie de treinamento para as crianças e jovens, o que favorece ao surgimento de novos atletas”, resume o professor.
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Tendência de continuação de marcas no Rio de Janeiro
A tendência é que muitas dessas marcas continuem como recordes mesmo após os jogos do Rio. No salto em distância por exemplo, a melhor marca registrada em 2015 é de 8,52m pelo norte-americano Jeff Henderson, nada que ameace o seu compatriota Beamon.
Situação semelhante ocorre no arremesso de martelo, com a melhor marca de 2015, registrada pelo polonês Pawel Fajdek, 90 centímetros a menos que o recorde olímpico.
Nos 100 e 200 metros rasos femininos, as marcas registradas por Florence Griffith, também dos Estados Unidos, nas Olimpíadas de Seul, tendem a permanecer imbatíveis. Em 2015, as melhores marcas nas provas pertencem a jamaicana Shelly Fraser (100m) e a holandesa Dafne Schippers (200m).
A primeira fez um tempo superior em mais de um décimo ao de Griffith, já a segunda registrou quase três décimos a mais. O arremesso de peso masculino é exceção e pode promover uma quebra de recorde, já que o também norte-americano Joe Kovacs tem neste ano uma marca superior ao recorde olímpico do alemão Ulf Timmermann.
Recordes batidos em série com ajuda dos supermaiôs
O recorde Olímpico que persiste a mais tempo na natação masculina foi registrado nos Jogos de Sidney, em 2000, pelo australiano Ian Thorpe, conhecido como “O Torpedo”. Os Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim, foram os responsáveis por varrer todos os outros 15 recordes masculinos na modalidade.
O americano Michael Phelps foi o responsável pela superação de oito marcar, cinco em provas individuais e três em revezamentos. A única marca brasileira é de César Cielo nos 50 metros livres.
A natação feminina também é outra desde Pequim. Na China foram registrados 14 dos 16 recordes vigentes. A única que resistiu ao festival de marcas quebradas na China foi a holandesa Inge de Bruijn, vencedora nos 100 metros borboleta em Sidney, no ano 2000. A outra marca registrada fora de Pequim é de 2012, em Londres, de autoria da americana Rebecca Soni.
A sequência de quebras das marcas se deve também aos “supermaiôs” utilizados pelos atletas nos jogos de Pequim. A vestimenta repelia a água e comprimia os músculos dos nadadores. Dessa forma, eles deslizavam mais facilmente na piscina.
Os atletas poupavam 5% de oxigênio ao longo das provas e utilizavam o gás extra para o sprint final. O resultado foi a quebra de vários recordes. Em 2010 a Federação Internacional de Natação (FINA) proibiu o uso dos maiôs, entretanto os tempos alcançados em Pequim continuaram valendo.
João Vitor Pascoal
João é estagiário do Diario, com passagem pela editoria de Política e atualmente escreve para a célula de dados do jornal. O único esporte que pratica é o futebol. E é bicampeão da Copa Paulo Francis, apesar de ser um péssimo goleiro.