Público é cada vez mais financiador e produto de tudo que consome
Plataformas de crowdfunding e crowdsourcing se multiplicam e fazem empresas enxergar seu público como muito mais que apenas consumidores
Cada vez mais populares em cidades fomentadoras de tecnologia, como o Recife, as plataformas que utilizam o público como principal financiador ou fonte de dados se multiplicam no ambiente online. De um lado, clientes “prévios” custeiam a criação de um produto que ainda nem existe para que possam vir a utilizá-lo – o chamado crowdfunding.
De outro, aplicativos e sistemas abastecidos pelas informações cedidas voluntariamente pelos próprios usuários, que formam bancos de dados úteis para empresa e cliente, o que constitui o crowdsourcing, no qual temos como grande exemplo o app de condições de trânsito Waze. Em inglês, crowd significa público ou multidão. “Provavelmente o recurso mais popular entre as pessoas é a crowdfunding, em que os indivíduos costumam financiar desde shows, ideias, projetos até pesquisas científicas e causas sociais”, explica Filipe Pessoa, executivo-chefe de empreendedorismo do Cesar. Geralmente, em pouco tempo, os investidores têm recompensas em troca da contribuição – normalmente acesso ao show, filme ou projeto que ajudaram.
Em alguns casos, são questões pontuais, focadas no serviço. O estudante de comunicação Marlon Diego Gomes, 22, conseguiu financiar coletivamente a lente de sua câmera fotográfica. Em troca, dependendo do valor doado, os contribuintes teriam direito desde uma foto até um ensaio. “Estava precisando de uma lente que facilitaria e expandiria meus trabalhos em fotografia. Então, coloquei lá o meu textinho explicando a importância do equipamento fotográfico para mim e veio a surpresa”, conta Marlon, sobre os R$ 700 arrecadados na modalidade “tudo ou nada” – em que o dinheiro é devolvido aos interessados, caso a meta necessária não seja atingida.
Sem restrições
*Financiamento coletivo não tem restrições de projetos
Vaquinha virtual de amigos
*Pode ser utilizado até para pequenos reparos, a partir de R$ 50, como uma “vaquinha virtual de amigos
Maior projeto
*O maior projeto ainda com financiamento em andamento é um game. O Star Citizen já levantou 114 milhões de dólares (mais de R$ 400 milhões).
Maior valor arrecadado
*O valor mais alto já financiado em uma campanha do gênero foi o The Dao, de blockchain, banco de dados ligado à moeda alternativa Bitcoin – o equivalente a R$ 600 milhões
Onde captar financiamento?
Bicharia – http://www.bicharia.com.br
Benfeitoria – http://benfeitoria.com
Catarse – http://catarse.me
Garupa – http://garupa.juntos.com.vc
Ideame – http://idea.me
Juntos – http://www.juntos.com.vc
Kickante – http://www.kickante.com.br
Impulso – http://www.impulso.org.br
Salve Esporte – http://www.salvesport.com
Sibite – http://www.sibite.com.br
Startando – http://www.startando.com.br
Vakinha – http://www.vakinha.com.br
No caso do crowdsourcing, o “ganho” é menos perceptível em primeiro momento, como no exemplo da Nasa, que disponibilizou seu acervo de fotos para que a população mundial, com perguntas simples, sem necessidade de conhecimento científico as classificasse ou, ainda, a enciclopédia virtual Wikipedia.
“Elas resultam em uma nova forma de como os negócios são gerados e definem novas formas de produtos e serviços. As pessoas estavam acostumadas a usar a internet com o objetivo de pesquisar coisas. Essas plataformas abrem novas possibilidades”, explica José Carlos Cavalcanti professor do departamento de Economia e do Centro de informática da UFPE.
Em breve, o Brasil deve seguir os passos de outros mercados, onde é possível, inclusive, virar acionista em startups a partir desses tipos de plataformas. “Uma pessoa física que não seja necessariamente um investidor qualificado pode se tornar sócio de uma empresa recebendo em troca o valor doado em forma de ação. Ou seja, você pode abrir o acesso de pessoas que acreditem em uma determinada ideia, permitindo ainda, participar de várias ideias, aumentando o portfólio de investimentos”, conclui Filipe Pessoa.
Uma crowd que vale US$ 1 milhão
Uma startup pernambucana apostou pesado no crowdsourcing e especializou-se em antever possíveis epidemias. O trabalho desenvolveu a ponto da Epitrack, em parceria com o Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika), da Universidade Federal de Pernambuco, criar uma plataforma online capaz de identificar três tipos de câncer de forma rápida e eficiente – e a ideia pode ser recompensada, em concurso internacional com um prêmio de até um milhão de dólares.
“A ideia é que no futuro exista um crowdsourcing em que as pessoas falem os sintomas ou até mesmo coloquem uma gotinha de sangue, como se fosse um medidor de glicose, e a partir disso possa ser analisado os tipos de câncer que a pessoa mais tenha chances de desenvolver e o principal câncer que ataque a população”, explica Onício Leal, CEO da Epitrack. A expertise com os dados da população veio de experiências internacionais e de grandes eventos, como a Copa do Mundo, em que o app Saúde na Copa foi apoiado pelo Ministério da Saúde para prever o surgimento de surtos no país.
Para os Jogos Olímpicos do Rio, um outro projeto, o Guardiões da Saúde, será disponibilizado em seis línguas. Mais uma vez, o público exerce papel fundamental na trajetória da startup. Isso porque o concurso The Venture, da Chivas, reúne projetos de 27 países e parte do financiamento é proporcional aos votos obtidos junto à população.
Mayra Couto
Repórter
Mayra é estudante de jornalismo da Aeso – Faculdades Integradas Barros Melo. Integra a equipe de dados do jornal, no projeto CuriosaMente, desde janeiro de 2016. Não costuma contribuir com projetos ainda, exceto em vaquinhas de amigos…
Julio Jacobina
Fotógrafo
Ricardo Fernandes
Fotógrafo