Profissionais saem de empresas e usam know-how para investir no próprio negócio

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Profissionais saem de empresas e usam know-how para investir em empreendimentos em setores nos quais já são especialistas

De funcionário de fabricantes de sorvetes a dono de sorveteria em oito meses. Assim pode ser resumida a mudança profissional de Márcio Coutinho. Foram duas décadas atuando em duas das maiores fabricantes do país – primeiro na Kibon, depois na Frisabor. Da escolha das embalagens ao sabor dos sorvetes, Márcio tinha conhecimento de tudo, por ter passado por diversos setores das empresas.  Diante do desemprego, não teve dúvidas: usou o conhecimento no ramo para aplicar no próprio negócio. Assim, surgiu a Casa de Sorvete, sorveteria instalada em uma Kombi customizada, que preza por sabores regionais.

Shilton Araújo/Especial DP
Shilton Araújo/Especial DP

Incentivado pela esposa e pelos três filhos, o engenheiro mecânico com MBA em gestão empresarial comprou as máquinas e o material necessário, analisou quais eram os sorvetes preferidos do mercado e criou sabores baseados nas estatísticas que encontrou em pesquisas realizadas nos arredores de onde a Kombi está instalada (em Setúbal, na Zona Sul do Recife) com um toque do que Pernambuco tem de mais regional como pitanga, mangaba e cajá. “Estou tentando gerar uma interação entre o local em que estamos com o nosso produto, prezando pelo regional. Eu moro em Setúbal e é uma área com muito potencial, por isso nosso primeiro ponto é lá”.

Shilton Araújo/Especial DP

A Casa de Sorvete funciona com um cardápio de 16 de sabores, entre eles opções sem lactose, sem gordura e sem açúcar. E a viabilidade do negócio é tão boa que já há planos para filiais. “Ela é altamente viável, tem um custo muito menor que qualquer outra operação. Saímos de um cenário de crise, para um de oportunidade, e eu sei que temos espaço para crescer, mas tem que ver como vai ser”, conta.

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É necessário saber se articular dentro do mercado e com outros empreendimentos, em busca de canais de divulgação

Para a gerente de atendimento individual do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Roberta Andrade, o uso de uma expertise é um dos caminhos que podem ser utilizados por novos empreendedores. “Um dos insumos que vários empreendedores utilizam é a expertise que já tem e isso é importante para quem se identifica com aquela área na qual pode empreender. Esse empreendedor pode usar esse aprendizado, respeitando os possíveis segredos industriais da empresa onde trabalhou, mas também explorando outras pessoas que não estavam na cartela da grande empresa antes. Há espaço para todos”, analisa.

Empresas abertas em 2009

Chegaram em 2014 funcionando

Modelo e independente

Da mesma forma que Márcio, Maysa Barros, de 23 anos, também enxergou a oportunidade de investir em uma área que já tem conhecimento. O contexto é diferente, não foi preciso um grande investimento para que a modelo, atuando desde os 15 anos, seguisse na profissão por conta própria, após se desligar de uma agência – que cobrava 30% dos lucros dos trabalhos que realizava.

Criou um perfil profissional no Instagram para postar fotos das roupas que usava no dia a dia e rapidamente se popularizou, a ponto de marcas entrarem em contato para que usasse as peças delas. E mesmo algumas das empresas que a tinham em campanhas durante a parceria com a agência, não abriram mão de ter Maysa como modelo, enquanto outras propostas surgiam pelo perfil no Instagram que, em apenas sete meses, já passou de 16 mil seguidores.

Algumas marcas não abriram mão de ter Maysa como modelo e outras surgiram através do perfil, que tem apenas sete meses, mas já passou de 16 mil seguidores, e no total Maysa acaba tendo que fotografar até 150 roupas por final de semana. Ela acorda às 4 da manhã para ir para a locação e garantir a melhor luz para capturar foto de corpo todo, do cabelo, dos acessórios, da bolsa, do sapato, tudo dando destaque às peças. 

Leonardo Barros/Cortesia

Mesmo com tanto sucesso, o rápido crescimento do número de seguidores foi uma grande e grata surpresa. “Não planejava que isso acontecesse assim tão rápido e foi inevitável ter que sair da agência, mas agora não quero fazer outra coisa. Hoje me dedico a ser influenciadora digital e postar fotos street style”, explicou.

Trabalhar por conta própria requer bastante esforço, no caso de Maysa, isso significa acordar às 4h e fotografar com até 150 roupas distintas em um único final de semana, ainda tendo que se preocupar com a locação e garantir a melhor luz para capturar foto de corpo, do cabelo, dos acessórios, da bolsa, do sapato, destacando as peças para que os clientes fiquem satisfeitos.

Leonardo Barros/Cortesia

“Não planejava que isso acontecesse assim tão rápido e foi inevitável ter que sair da agência, mas agora não quero fazer outra coisa. Hoje me dedico a ser influenciadora digital e postar fotos street style”, explicou.

A popularidade no Instagram fez a demanda pela modelo crescer tanto, que foi necessário buscar ajuda; encontrada dentro da própria família. Hoje, a mãe de Maysa, que trabalhava como diarista, é peça essencial para que as sessões de fotos fluam corretamente. Cleide é quem organiza as roupas e facilita as trocas de peças entre um look e outro, além de receber e organizar produtos enviados pelas empresas. Além dela, o marido de Maysa, Leonardo, é quem a acompanha nos ensaios e tira todas as suas fotos. “Se não for ele, eu nem quero”, conta a modelo.

Apesar de tudo correr bem, Maysa tem consciência de que é preciso se aprimorar. Assim que a agenda der uma folga, investirá em um curso de moda. “Todo investimento que eu fizer agora vai ser para melhorar meu trabalho. Estamos pagando o curso de fotografia do meu marido com o dinheiro que consegui sendo influenciadora; consigo pagar minha mãe com esse dinheiro também e, assim, pessoas estão sendo empregadas graças ao sucesso nas redes sociais. Ainda pretendo contratar um assessor para me ajudar também”, planeja a modelo.

  • Empresas que fecham a porta após um ano 22,7% 22,7%
  • Empresas que não sobrevivem após cinco anos 60% 60%
  • Taxa de empreendedorismo no país em 2015 39.3% 39.3%
  • Empreendedores que abriram empresa por enxergarem uma oportunidade 56% 56%
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É preciso conhecer suas potencialidades, o mercado e estabelecer uma rede de relacionamentos

O "universo Geek" como inspiração

Após trabalhar em uma gráfica por quatro anos e em uma empresa que produzia camisas por dois anos, foi com bolinhas temáticas para enfeitar sua árvore de Natal de 2015 que o designer Ed Madson deu o primeiro passo como empreendedor. Apaixonado pelo mundo contemporâneo da cultura nerd, queria uma decoração temática com séries e filmes que gostava. Formado em design desde 2008, criou os enfeites e, pouco depois, percebeu que podia vendê-los. O Natal passou e, logicamente, a procura pelos enfeites também. Diante disso, Ed decidiu dar continuidade ao próprio negócio com a fabricação de canecas.

Gabriel Melo/Especial DP

Na loja Panda Geek ele faz o papel de todos os profissionais em um: desenha, compra o material, faz o marketing pelas redes sociais, monta sua barraca em feirinhas e vende os produtos ao público jovem que curte tudo dentro desse tema. Com o crescimento da marca – e do lucro -, também adicionou outros itens ao portfólio, como camisetas, quadros, adesivos, bottons e sapatos, mas todos eles terceirizados.

Isso é só o começo do sonho de abrir uma loja física Geek, mas sem local fixo. “Vender em feirinhas é mais fácil e tem um custo menor, pois não há preocupação com contas de água e energia nem preciso esperar clientes, pois vou até eles. Essa movimentação é melhor para o marketing da empresa e um plano para o futuro é ter uma loja estilo food truck, para que ela seja móvel”, explica Ed.

Gabriel Melo/Especial DP
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É preciso ter uma reserva financeira para os primeiros meses de negócio. O dinheiro permite um tempo maior de maturação do empreendimento e da clientela
Gabriel Melo/Especial DP
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A análise do mercado deve levar em conta o potencial de clientes, mas também os concorrentes e fornecedores, para buscar diferencial e parcerias que viabilizem o negócio
Paula Paixão

Paula Paixão

Repórter

Paula é estagiária do Diario de Pernambuco desde janeiro de 2017

Shilton Araújo

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Fotógrafo

Gabriel Melo

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