Em 10 anos, Pernambuco cresceu, mas população continua entre as mais vulneráveis do país

IPEA revela que o estado possui uma realidade social mais frágil que a média brasileira e o quadro é de vulnerabilidade

Se ainda há dúvida sobre o salto registrado na qualidade de vida no estado, o Atlas da Vulnerabilidade Social a dilui. Há 15 anos, apenas um distrito (Fernando de Noronha) estava fora do cenário de risco – vulnerabilidade alta ou muito alta -. Desde 2010, já são 30. O estudo é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em todo o país e aponta o quesito “renda e trabalho” como o principal motor da melhora. O cenário, no entanto, ainda preocupa e o estado continua sendo um dos mais vulneráveis do país, ou seja, onde há maior risco à qualidade de vida e à estabilidade de suas cidades.

Considera-se alta ou altíssima vulnerabilidade quando a marca excede 0,4, numa escala que vai de 0 a 1. Muito baixa, quando é inferior a 0,2. Este é o chamado Índice de Vulnerabilidade Social (IVS), que inclui desde a formação educacional até o acesso a serviços. De acordo com a coordenadora de estudos e desenvolvimento urbano do Ipea, Bárbara Margutti, o índice serve de avaliação do desempenho do município a partir das políticas sociais. “Outra maneira é olhar as disparidades entre municípios, captando localidades e indicadores que apresentem pior desempenho e maior fragilidade, exigindo maior atenção do poder público”, destaca. Pernambuco se encontra no bolsão de vulnerabilidade que abarca Norte e Nordeste do país e que tem, no semiárido, seu ponto mais delicado. No estado, a avaliação está relacionada também ao desenvolvimento humano, tendo num extremo menos vulnerável, Fernando de Noronha, Recife, Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe e, no outro, Araçoiaba, Inajá, Tupanatinga e Manari.

IVS Infraestrutura Urbana

IVS Capital Humano

IVS Renda e Trabalho

O geógrafo da Universidade Federal de Pernambuco Jan Bitoun atribui à gestão pública a responsabilidade por uma falta de mudança mais profunda, por promover, em suas estratégias econômicas, um descompasso com as estratégias sociais.

“Em planos de desenvolvimento, costuma-se tratar o desenvolvimento humano como social, esquecendo que o conceito trata da capacidade dos indivíduos de ampliar suas oportunidades de escolha nos campos sociais, culturais e econômicos”, afirma.

Ele acrescenta que, nesse cenário, a dimensão econômica acaba “solta” e tratada a partir de vantagens comparativas na perspectiva da competição entre lugares e regiões, levando à excessiva prioridade aos macroempreendimentos e ao setor terciário avançado, que exigem níveis educacionais mais elevados e menos inclusivos.

“Vivenciamos o presente em condições de partida de extremada desigualdade de oportunidades sem que isso seja levado em conta na dimensão econômica dos planos que, em última instância, remetem à educação a tarefa de reduzir essa desigualdade. Haja paciência histórica!”.

O que é IVS?

O Índice de Vulnerabilidade Social mede, numa escala de 0 a 1, o quanto é comprometido o acesso da população a estruturas que possam permiti-la qualidade de vida. No de infraestrutura urbana, refere-se ao acesso a serviços como saneamento e mobilidade, o IVS Capital Humano trata da trajetória educacional das famílias e o capital familiar, enquanto o terceiro ponto, IVS Renda e trabalho vai além da renda per capita e leva em conta a inserção precária da população no mercado de trabalho, incluindo desocupados e exploração infantil.

Os microdados

O que a pesquisa revela sobre Pernambuco?
COEFICIENTE DE GINI Indica numa escala de 0 a 1 o quanto a riqueza é distribuída, sendo 0 o nível de total igualdade e 1, total desigualdade. Recife é a capital brasileira mais desigual há mais de 20 anos.

Em 21 municípios, o coeficiente de Gini (ou seja, a desigualdade) aumentou em 10 anos. São eles: Chã Grande, Paranatama, Jaqueira, Betânia, Mirandiba, Caetés, BomConselho, Moreno, Serrita, Parnamirim, Belém de São Francisco, Brejão, Maraial,Tupanatinga, Tracunhaém, Amaraji, Barra de Guabiraba, Salgadinho, Calçado, Ilha de Itamaracá e Recife

Educação

pessoas não possuem conhecimento suficiente para conseguir ler ou escrever no Brasil

Em Pernambuco, apenas 5 municípios estão abaixo dessa média: Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda, Paulista e Fernando de Noronha
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municípios possuem percentuais de analfabetos, com mais de 15 anos, superior à média brasileira, sendo o pior resultado registrado em Salgadinho (43,2%)

anos depois, os municípios em que essa realidade mais mudou foram Toritama (-40,5%) e Tamandaré (-38,5%)

Qualificação

famílias com filhos estão em casas onde não há ninguém com o ensino fundamental completo

Em Pernambuco, 8 municípios estão abaixo dessa média: Triunfo, Abreu e Lima,Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe, Olinda, Recife, Paulista e Fernando de Noronha

municípios têm alto índice de crianças em casas onde ninguém tem ensino fundamental. O caso mais grave: Tupanatinga – apenas 3 em cada 10 famílias têm instrução

anos depois, os municípios em que essa realidade mais mudou foram Carnaubeira da Penha (-48%) e Fernando de Noronha (-49%)

Mortalidade infantil

crianças em cada 1 mil nascidas vivas acabam falecendo prematuramente. Antes, o nível era de 30,57 (-45%)

Em Pernambuco, apenas 6 municípios estão melhores que essa realidade: Triunfo, Jaboatão dos Guararapes, Recife, Paulista, Olinda e Fernando de Noronha

municípios possuem índice pior que a média brasileira, sendo o pior resultado registrado em Joaquim Nabuco (42,5)

anos depois, os municípios em que essa realidade mais mudou foram Feira Nova e Rio Formoso (-68%)

Ed Wanderley

Ed Wanderley

Repórter multimídia

Ed é repórter do Diario desde 2010, onde se dedica a reportagens voltadas ao jornalismo investigativo, digital e de dados, com ênfase nos Direitos Humanos e no Desenvolvimento Social.