Os 4 mosquitos mais comuns da RMR
Embora o Aedes aegypti seja o mais conhecido, existem outras 3.500 espécies
Uma das espécies mais conhecidas de mosquito é o Aedes aegypti. Ele foi muito estudado por profissionais de saúde após uma epidemia de arboviroses – doenças transmitidas por insetos – no Brasil. O que pouca gente sabe é que existem, no mundo, cerca de 3.500 tipos de mosquitos. A distribuição e abundância deles está diretamente sujeita ao clima. No Recife, é possível encontrar cerca de 15 espécies, embora nem todas tenham relevância médica. O CuriosaMente ouviu especialistas que listaram os quatro tipos mais comuns na Região Metropolitana do Recife (RMR) e as doenças que eles transmitem.
O mosquito mais fácil de ser achado na região é o Culex quinquefasciatus. Por trás do nome estranho, uma velha conhecida: a muriçoca. Ela é a principal transmissora da filariose, doença parasitária popularmente chamada de elefantíase. “Pernambuco, em especial a Região Metropolitana do Recife, é vulnerável à doença por questões de saneamento. Em alguns bairros, como a Imbiribeira, sempre são realizados exames para verificar se há casos de elefantíase”, adverte o biólogo e professor do Centro Universitário Maurício de Nassau, Antônio Sérgio Jr. A muriçoca também pode transmitir outras arboviroses que causam encefalites, como o Vírus do Oeste do Nilo e a São Luís – enfermidades que não ocorrem no Brasil.
Em segundo lugar na lista encontra-se o Aedes aegypti, ou mosquito-da-dengue, como é mais conhecido. Ele é o causador de doenças como a chikungunya e a zika – esta última, associada aos casos de microcefalia – além de outras arboviroses, como a febre amarela. Na sequência, há o Aedes albopictus, ou Mosquito Tigre Asiático, que é um “primo” do aegypti, com a diferença de que é mais encontrado em áreas de vegetação. Já o mosquito-da-dengue costuma surgir em zonas urbanas. “O albopictus se diferencia por ter um hábito mais silvestre, sendo mais encontrado em árvores e folhagens. Com o crescimento populacional das cidades, porém, é possível que ele se torne mais urbanizado”, explica a chefe do departamento de entomologia da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Cláudia Fontes.
Transmissor da leishmaniose, o flebotomíneo ocupa o quarto lugar da lista. Apesar de ser chamado de “mosquito-palha”, essa espécie não se trata de um mosquito propriamente dito. “Eles se assemelham no formato, mas o flebotomíneo é menor e suas asas ficam em pé durante o pouso, diferente do mosquito, que mantém as asas fechadas”, esclarece Cláudia. A leishmaniose é uma doença que ocorre em duas formas: a visceral e a cutânea. Ambas acometem os cães domésticos e são transmitidas do animal para pessoas e vice-versa.
Culex quinquefasciatus
Nome popular:
Muriçoca ou pernilongo
Transmite:
Filariose, através de um parasita do qual é vetor
Sintomas:
Problemas no sistema linfático e inchaços nos membros (a depender do local onde o verme se instalou). A doença normalmente aparece cerca de dez anos após a pessoa ser infectada.
Prevenção e tratamento:
É tratada pelo Ministério da Saúde. O diagnóstico ocorre através de um teste no qual se faz um furo no dedo do paciente para extração de sangue e procura-se pela presença de pequenas larvas. O exame é feito à noite, quando elas migram para os membros periféricos.
Aedes aegypti
Nome popular:
Mosquito da dengue
Transmite:
Dengue, chikungunya e zika. O aedes tem grande capacidade de ser vetor e os vírus se multiplicam muito facilmente nesse mosquito.
Sintomas:
Os principais sintomas são febre e dores no corpo. Se for dengue, elas são mais musculares do que articulares. A zika provoca uma inflamação ocular parecida com a conjuntivite. Como a diferença entre as doenças é sutil, exames sorológicos são importantes para chegar ao diagnóstico.
Prevenção e tratamento:
Não há tratamentos para as arboviroses, apenas medicações paliativas que minimizam os sintomas.
Aedes albopictus
Nome popular:
Mosquito Tigre Asiático
Transmite:
Dengue, chikungunya e, possivelmente, zika.
Sintomas:
O paciente pode apresentar inflamação ocular, febre e dores no corpo. O diagnóstico é realizado a partir de exames sorológicos, visto que há pouca diferença entre uma doença e outra.
Prevenção e tratamento:
Um exame é realizado para identificar qual vírus que circula no sangue do paciente e, assim, possibilita a identificação da doença. Mesmo após a identificação da doença, ainda não há tratamentos para as arboviroses. Medicações paliativas podem minimizar os sintomas.
Flebotomíneo
Nome popular:
Mosquito-palha
Transmite:
Leishmaniose visceral e cutânea
Sintomas:
A leishmaniose visceral ocorre nos órgãos enquanto a cutânea, em áreas de cartilagem. A segunda corrói o tecido e deixa uma ferida no local, onde se encontram os parasitas. Já a visceral causa sérios problemas de respiração, além de ataca o baço e o fígado. A doença pode fazer com que o paciente vomite sangue e até mesmo levá-lo a óbito.
Prevenção e tratamento:
São administrados medicamentos para matar os parasitas. A dose e duração da terapia variam com as formas da doença e gravidade dos sintomas.
“Esses mosquitos ocorrem na maioria das cidades do Brasil. O clima define a frequência e abundância. No entanto, nota-se uma adaptação constante de Aedes aegypti e Aedes albopictus às variações climáticas, inclusive com o avanço na Europa”, acrescenta a bióloga e pesquisadora do departamento de entomologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Cleide Ribeiro.
No Recife, a presença de mosquitos tende a ser mais frequente em locais altos ou de saneamento básico deficiente. “Bairros como Imbiribeira, Vasco da Gama, Casa Amarela, Nova Descoberta, Varzéa, Santo Amaro, Dois Unidos, Ibura e Macaxeira têm uma maior presença dos mosquitos por essas condições. Muitas das casas nesses locais têm reservas de água que não são tampadas, o que facilita a proliferação”, avalia Antônio.
“O albopictus se diferencia por ter um hábito mais silvestre, sendo mais encontrado em árvores e folhagens. Com o crescimento populacional das cidades, porém, é possível que ele se torne mais urbanizado”
Além dos problemas relativos à limpeza pública, outro fator que atrai a atenção dos mosquitos são as cores claras. Para mantê-los afastados, especialistas recomendam o uso de roupas em tons escuros, repelentes, telas de janelas e o uso de espirais sentinelas. Não armazenar água parada, claro, é fundamental.
A importância da prevenção
Apesar da muriçoca ser o mosquito mais comum na Região Metropolitana, os casos de filariose em Pernambuco foram reduzidos a zero em dez anos. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, em 2004, foram registrados 897 ocorrências no estado, que diminuíram progressivamente. Com o início das atividades do programa Sanar, em 2011, esse número caiu para 11. Depois, para apenas cinco, em 2012. Desde 2014, a doença sumiu.
“Fazemos mutirões, divulgamos e mobilizamos a população das áreas de risco. A cada ano a gente faz o tratamento adequado”, explica o superintendente do programa Sanar, Alexandre Menezes. As ações do projeto são focadas no enfrentamento a doenças transmissíveis negligenciadas.”O trabalho é feito principalmente com crianças, pois não se espera que elas mudem de local com frequência. Elas são analisadas nas escolas e a gente começa a verificar se ainda há predomínio da doença na região”, conta.
Municípios com mais falecimentos
1º) Recife – 30 casos
2º) Jaboatão – 13 casos
3º) Caruaru – 5 casos
4º) Olinda – 4 casos
A dengue, por outro lado, possui um quadro mais preocupante. Entre janeiro e setembro deste ano, 27.085 casos de dengue foram confirmados e houve 102.209 notificações oriundas de 184 municípios e Fernando de Noronha. O número de notificações apresentou redução de 10,8% em relação ao mesmo período do ano anterior, que teve 114.583 casos comunicados à Secretaria Estadual de Saúde.Já a chikungunya teve 53.601 casos reportados e 22.182 deles foram confirmados desde janeiro deste ano até setembro. Em 2015, no mesmo período, 792 casos da doença foram comunicados, mas não há informações de quantos deles foram confirmados.
A zika, por sua vez, teve 152 confirmações neste ano. Em 2015, a notificação da doença tornou-se obrigatória apenas em 10 de dezembro, totalizando 1.386 notificações até o fim do mês. As ações efetivas de combate aos mosquitos são administradas pelas prefeituras, mas municípios recebem apoio técnico do Estado.
“A visita técnica é realizada em todos as cidades que demonstraram aumento nos casos”, frisa a gerente de vigilância das arboviroses da Secretaria Estadual de Saúde, Claudenice Pontes. Ela acrescenta que o carro fumacê também tem um papel importante. “Observamos o número de casos e a distribuição espacial deles. É necessário que ocorram em uma área grande e o uso do fumacê só é liberado após uma análise”, esclarece.
Mesmo com essas medidas, as estatísticas oficiais apontam 88 mortes confirmadas neste ano por arboviroses em Pernambuco. Dessas, 18 tiveram exames que testaram positivo para dengue, 53 para chikungunya e 17 para dengue e chikungunya ao mesmo tempo.
Casos confirmados em 2016
Dengue
Chikungunya
Zika
Eduarda França
Repórter
Eduarda França é estagiária do CuriosaMente.