Mapa inédito do Recife Antigo traz raio X de 500 árvores

Estudo revela flora saudável, mas também que mais da metade das árvores do bairro pertence a apenas duas espécies

O Bairro do Recife, principal sítio histórico da cidade, possui um total de 564 árvores e quatro em cada cinco delas estão com a saúde ideal. Essa é uma das constatações do inventário realizado pelo Instituto Terra Brasil e financiado com recursos do Fundo Municipal de Meio Ambiente. Desse universo, 36% são da espécie Combrateceas, popularmente conhecida como castanhola. Em segundo lugar, está a Palmeira Imperial, da espécie Arecaceae, disposta em pontos centrais do bairro, como a praça do Arsenal. Juntas, elas representam mais da metade de área verde na região.

Além de mensurar o índice de arborização do bairro, a pesquisa também aferiu o impacto das árvores no passeio público, na rede elétrica e uma investigação sobre o estado de saúde de cada uma delas. Com essas informações, os órgãos municipais executivos teriam uma noção detalhada para realizar atividades de reparo urbano, como podas e substituições de árvores.

 

Um dado relevante para os pedestres da cidade maurícia: uma em cada quatro árvores plantadas no bairro causam problemas às calçadas, um índice preocupante para quem transita pelas principais ruas da localidade. “Não houve um padrão de plantio. As copas, por exemplo, não estão ordenadas igualmente. Há avenidas que nem possuem árvores”, analisa o presidente do instituto, Rômulo Carlos. Outro recorte dá conta que pelo menos seis em cada dez árvores não entram em conflito com a fiação elétrica, uma preocupação recorrente entre os recifenses, principalmente depois dos episódios de mais de 50 mortes por choque elétrico nas vias públicas registrados na cidade desde 2012.

O estudo identificou que o bairro não teve, ao longo da história, uma preocupação com a diversidade da arborização. “Isso tem um grande impacto na fauna e também na própria estrutura urbana. Quando plantamos árvores que não estão de acordo com nossa realidade ambiental, a consequência é desastrosa para o meio urbano e para a própria natureza”.

A Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, apesar de já contar com as informações, ainda não iniciou atividades de tratamento ou retorques na na arborização. “Estamos esperando a conclusão do inventário, que continua sob a responsabilidade de outra instituição. O Recife Antigo foi uma espécie de projeto-piloto, um teste. Será uma ação gradual”, explicou o secretário-executivo de Meio Ambiente da Prefeitura do Recife, Maurício Guerra.

 

A intenção é inventariar ainda os bairros Espinheiro, Rosarinho, Graças, Derby, Torreão , Aflitos, Soledade, Boa Vista, Ilha do Leite e Santo Amaro.

Arborização vem sendo repensada desde o século 19

Apesar da forte presença de plantas nativas, entre 1840 e 1880, foram inseridas nos jardins da cidade as mesmas Castanholas e Palmeiras Imperiais que se espalham pelo Recife ainda hoje. Esse processo de arborização foi realizado durante o governo de Francisco Rego Barros – o conde da Boa Vista, como aponta pesquisa de mestrado da historiadora Laura da Hora, que identificou quais foram as plantas priorizadas naquela época.

Segundo ela, estava nos planos do Conde colocar em prática na cidade um novo formato de desenvolvimento urbano, que previa, além da abertura de novas ruas e ferrovias, a criação de jardins públicos e plantio de nova vegetação. O contexto urbano daquele período estava marcado por uma preocupação médica, no qual governantes e profissionais entendiam que a arborização da cidade evitaria contaminações e epidemias. “Esse movimento reivindicava novos parques urbanos porque via neles uma forma de amenizar os problemas da cidade. Os parques, praças e jardins atuariam como ‘pulmões verdes’, filtrando o ar poluído que causava doenças.”

Nesse contexto, o processo de arborização carregava consigo um símbolo de progresso e modernização. “O uso de jardins e praças passou a ser símbolo de bom gosto, civilidade e status, no qual os modelos europeus, em especial os da França, Inglaterra e Alemanha, são os principais referenciais adotados”. A Câmara Municipal, em 1840, era a encarregada de promover a arborização. Por meio de editais, a instituição convocava proprietários para que plantassem diante das suas casas, com instruções sobre as espécies que deviam ser plantadas. Mas nem sempre cumpriam com o estabelecido. Com isso, a própria Câmara assumiu a função de arborizar a cidade, tornando-se, assim, uma prática de Estado. O resto é história…

Afonso Bezerra

Afonso Bezerra

Repórter estagiário

Afonso é estagiário do Diario há um ano, com passagem pela editoria Lugar Certo. Atualmente, escreve para editoria Local. Já teve pés de acerola, maracujá e manga, mas, por ironia do destino e apesar de morar num lugar chamado São Lourenço da Mata, hoje vive em apartamento.

Brenda Alcântara

Brenda Alcântara

Fotógrafa

Brenda é estagiária do Diario há um ano e captura todas as cenas do dia, de protesto a anúncios de políticos. A cara não nega que, até pouco tempo, estava subindo em árvores semelhantes às que hoje fotografa.