Gene da pele clara teria surgido na África, aponta estudo
O gene da pele clara teria surgido na África. Essa é uma das conclusões de um estudo da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, envolvendo 2.092 voluntários de origem africana. A pesquisa analisou os níveis de melanina, responsável pela coloração da pele e conseguiu traçar que uma variante conhecida pela coloração da pele de europeus e de alguns povos asiáticos teve origem na África. A correlação foi detectada no gene SLC24A5, que surgiu há mais de 30 mil anos entre esses dois povos. O trabalho demonstrou que ele está presente em populações da Etiópia e da Tanzânia – regiões conhecidas por terem povoado o Sudeste Asiático e o Oriente Médio, o que indica que a característica da pele esbranquiçada foi levada a partir da África para o resto do planeta.
O estudo publicado na Revista Science reforça que a concepção racista é um erro. Isso porque a descoberta põe em xeque a teoria secular de que a cor da pele é a principal característica para a determinação do conceito de raça. A pesquisa identificou, ainda, oito variantes genéticas compartilhadas no mundo. Algumas são encontradas, inclusive, em ancestrais humanos há cerca de 600 mil anos – antes mesmo do humano moderno surgir.
Outra descoberta e que registra a segunda maior correlação foi no gene MFSD12. Mutações nesta área do genoma estão associadas, desta vez, com a pigmentação escura. Essas variantes estão presentes em populações ancestrais nilosaarianas e subsaarianas. Além de também serem identificadas em povos na Índia e da Melanésia, onde se tende a ter a pele escura. O que chamou mais a atenção dos cientistas, todavia, é que esse gene também se expressa em indivíduos com vitiligo – condição caracterizada pela perda de pigmentação.
“Eu ainda lembro do momento em que vimos que esse gene estava associado com o vitiligo. Foi quando soubemos que tínhamos encontrado algo novo e excitante”, explica, animado, o coautor da pesquisa e pós doutorando da Universidade da Pensilvânia, Nicholas Crawford.
Para avaliar o impacto do gene, os geneticistas fizeram um experimento: bloquearam a expressão do gene em culturas de células. O bloqueio gerou o aumentou da produção de eumenlanina, tipo de pigmento responsável pelo castanho e o negro. Em peixes-zebras, o mesmo teste provocou a perda de células que produzem pigmento amarelo. E, em camundongos, a cor dos pelos foi alterada para cinza. Descobriram, também, que um gene associado à pigmentação da pele está relacionado com as defesas das células contra os raios ultravioletas e o risco de câncer da pele.
Além dessas novidades para o avanço da ciência, também foram encontradas correlações nos genes HERC2 e OCA2. O estudo mostra que a maior parte das variantes genéticas associadas com a pigmentação da pele se originam há mais de 300 mil anos – muito antes do surgimento do homem moderno. No caso do gene OCA2, por exemplo, é encontrado no povo San, de Botswana (África), há mais de 600 mil anos. A descoberta sugere que a mutação mais antiga estava associada à pele branca. Ou seja, os ancestrais humanos tinham a pele clara.
“Se rasparmos os pelos de um chipamzé, veremos a pigmentação clara”, começou a raciocinar a coautora da pesquisa e geneticista da Universidade da Pensilvânia, Sarah Tishkoff. “É provável que, quando perdemos a cobertura de pelos dos nossos corpos e nos movemos das florestas para as savanas, precisamos de peles mais escuras. E a mutação tanto para a pele clara quanto para a escura continuaram evoluindo nos humanos”, concluiu.
A análise demonstra que a baixa pigmentação da pele está presente há milhares de anos no DNA de ancestrais do humano moderno. Além de que algumas variantes de populações mais escuras, como as presentes em povoados africanos, evoluíram de ancestrais de pele mais clara. Isso, no fim das contas, derruba teses supremacistas de que os brancos europeus são superiores ou mais evoluídos.
“Existe tanta diversidade na África que muitas vezes não é apreciada. Não existe ‘raça africana’. Mostramos que a cor da pele é extremamente variável de acordo com o continente e continua evoluindo. Além de que, na maioria dos casos, as variantes genéticas associadas com peles claras surgiram na África”, pontuou a pesquisadora Sarah.