Esgoto vai virar energia elétrica em Caruaru

Projeto que deve sair do papel até 2016 levanta bandeira do desenvolvimento sustentável e gera energia elétrica a partir de gases que seriam lançados na atmosfera

 

Imagine o esgoto de toda uma cidade virar energia elétrica? É o que pode acontecer na cidade de Caruaru, no Agreste pernambucano, a 130 km do Recife. O projeto-piloto pretende captar os gases emitidos pelos dejetos em repouso na estação de tratamento do município e, a partir de um deles, gerar um combustível limpo que, comprimido e queimado, gera eletricidade para a rede local.

Fruto de uma parceria entre a Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) e a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), a iniciativa só deve começar a operar em 2016. Ao todo, devem ser gerados quase 75 mil kWh por mês, o suficiente para abastecer, por exemplo, o consumo elétrico de mais de 500 famílias – em residências sem chuveiros elétricos ou condicionadores de ar.

O investimento, de cerca de R$ 4,9 milhões, no entanto, deve ficar restrito ao ambiente da própria Compesa. A energia gerada no modelo deve ser consumida pela própria companhia, o que representará uma economia mensal de até R$ 224 mil. De acordo com o coordenador regional do Agreste Central da empresa, Glauber Rocha, esta será uma forma de dar um fim mais nobre e proveitoso ao material orgânico. “É uma forma de reduzir o impacto ambiental. Além disso, também estamos construindo uma lagoa de aeração que deve elevar de 92% para 97% o nível de oxigênio do material tratado que é devolvido ao Rio Ipojuca até dezembro de 2015”, defende.

A geração de energia ocorre quando os tanques biodigestores recebem o volume de esgoto da cidade – algo em torno de 50 litros por segundo, em cada um dos quatro receptores. Cheios de lodo natural, onde vivem bactérias que se alimentam do material orgânico presente nos dejetos, o local começa a ser palco de uma série de transformações químicas que liberam gases sulfídrico, carbônico e metano. É por meio da instalação de uma manta que capta esses gases – invisíveis e indolores – e de filtros que os separam que é possível comprimir o metano e conduzir a queima, unindo movimento e calor na geração de energia elétrica que é conduzida à rede local. Justamente por depender de volume e movimentação, é no horário noturno, entre 18h e 20h que a geração é mais intensa.

“É uma forma de baixar custo e  diminuir o impacto na natureza. É uma experiência. Acreditamos nela”

Glauber Rocha

Coordenador regional do Agreste Central, Compesa

Potência do gerador

KWh/mês devem ser gerados

seriam abastecidas

Como funciona?

A geração de energia ocorre quando os tanques biodigestores recebem o volume de esgoto da cidade – algo em torno de 50 litros por segundo, em cada um dos quatro receptores. Cheios de lodo natural, onde vivem bactérias que se alimentam do material orgânico presente nos dejetos, o local começa a ser palco de uma série de transformações químicas que liberam gases sulfídrico, carbônico e metano. É por meio da instalação de uma manta que capta esses gases – invisíveis e indolores – e de filtros que os separam que é possível comprimir o metano e conduzir a queima, unindo movimento e calor na geração de energia elétrica que é conduzida à rede local. Justamente por depender de volume e movimentação, é no horário noturno, entre 18h e 20h que a geração é mais intensa.

Segundo o gestor de meio ambiente da Celpe, Thiago Caires, um outro modelo, de pequena escala, deve servir de laboratório para os testes conduzidos pela empresa – instalado na Reserva Camará, em Aldeia (Camaragibe) e que deve sair do papel ainda este ano. O esquema de produção é exatamente o mesmo, mas a escala é alterada – são 10 KW de potência instalada, contra os 200 KW que serão disponibilizados na estação da Compesa, na capital do Agreste. “A ação faz parte dos projetos de sustentabilidade desenvolvidos pela Celpe. A ideia é avaliar o projeto-piloto e apresentá-lo para o poder público, de forma que ele possa vir a ser uma alternativa replicável em outras áreas do estado”, afirma.

 

O que vai sair do papel (deslize para ver o esquema)

Ao todo, há 87 estações de tratamento de esgoto espalhadas por Pernambuco e um volume anual tratado de 66,5 milhões de metros cúbicos – em condições semelhantes ao projeto-piloto, seria possível gerar um total de 900 mil KWh/mês, o equivalente ao abastecimento residencial de cidade de 26 mil habitantes.

é o consumo médio mensal de uma residência

é o horário em que há mais geração

estações tratam esgoto no estado

mais energia seria gerada no estado em projetos proporcionais ao de Caruaru

Ed Wanderley

Ed Wanderley

Repórter multimídia

Ed é repórter do Diario desde 2010, nos setores de digital, jornalismo de dados e temas relacionados aos Direitos Humanos. Volta e meia escreve sobre esgoto, mas nunca teve nenhum problema com sistemas de saneamento – além da surpresa de turista de primeira viagem ao demorar a entender que, fora do Brasil, papel se joga no vaso (quem nunca?).

Rafael Martins

Rafael Martins

Fotógrafo e videografista

Rafael é baiano e integra a equipe de fotografia desde o início de 2015. Aos 26 anos, nunca tinha conhecido uma estação de tratamento de esgoto – foi obrigado a entrar de cabeça…