Eles querem ser os novos Schwarzeneggers: a busca pela perfeição dos fisiculturistas

Mais de 500 ovos, quase 50 quilos de carne e 30 quilos de brócolis por mês. Tudo isso para uma pessoa. Essa é a dieta do empresário Richardson Melo, 42, fisiculturista desde 2001. Além disso, são cerca de cinco horas na academia, sem contar as repetições de exercícios. Ele é apenas um das dezenas de pernambucanos que aspiram o status um dia inspirado pelo ator e ex-governador Arnold Schwarzenegger – e um dos caminhos é justamente o evento Arnold Classic Brasil, organizado pelo próprio desde 2013. Uma das competições que aquecem esse sonho toma forma no dia 8 de novembro de 2015, no Recife, o Recifitness, que reunirá iniciantes e veteranos no Centro de Convenções.

Quando tinha apenas 2,2% de gordura no corpo, Richardson venceu o campeonato sul-americano de fisiculturismo na Argentina em setembro de 2015. Ainda subiu ao palco mais sonhado pelos iniciantes na atividade, com a presença do próprio Schwarzenegger. É uma das recompensas que coleciona, junto com 55 troféus, por um investimento no próprio corpo, iniciado aos 12 anos, com o que ele chama de “marombas de cimento” e que hoje chega a R$ 3 mil mensais em alimentação e suplementos. Desde a primeira competição, percebia crianças cutucando os pais ao vê-lo – as mais novas, admiradas, sem compreender alguém tão forte e diferente – bem como mulheres a paquerá-lo por ter um corpo como poucos têm.

Apesar de não ser fácil, o “investimento”, garante, é um prazer. “Antes, os fisiculturistas precisavam passar uma semana na praia, porque o bronzeado ressalta a definição do corpo. Ficavam lá, mudando de posição feito um galeto assando. Já fiz isso até na laje de casa”, conta gargalhando. “Enchi de água para poder me locomover engatinhando, porque o muro era baixo e eu não queria que os vizinhos me vissem”. A ideia é que o bronzeado destaque a definição de músculos e vasos sanguíneos – quanto mais à mostra, menor seria a gordura corporal. Hoje, há tintas para isso. “Cheguei a ter quase nada de gordura corporal. Eu poderia facilmente ter morrido”, lembra. Mas esse risco, segundo ele, também ocorre quando sai de casa para bares ou restaurantes. “Sempre querem criar confusões para brigar comigo e provar que são mais fortes. Mas normalmente estão armados ou em grupo. Tem que ter cabeça para lidar com essa inveja”, pondera.

Richardson observa a mudança no esporte ao longo do tempo. Coleciona revistas de fisiculturismo, inclusive exemplares dos anos 1940 e 1950. “Hoje a tecnologia evoluiu para o treinamento, para os suplementos e até para os anabolizantes. O corpo que Arnold tinha em 1970 não seria suficiente para subir ao pódio hoje em dia, por exemplo”, acredita.

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Os jovens "Arnold"

Men’s Physique (acima) x Bodybuilding (abaixo)

O ex-governador da Califórnia continua sendo exemplo máximo para quem inicia no fisiculturismo. Desde que seu evento esportivo começou a ser realizado no Brasil, muito atleta começou a treinar duro, motivado pela possibilidade de serem encontrados por um “olheiro”.

Eles aderem, principalmente à nova categoria do esporte, o Men’s Physique, que valoriza corpos aproximados do padrão de beleza que comumente se vê em revistas e TVs hoje – sem, no entanto, avaliar as pernas dos candidatos, quase sempre cobertas por bermudas.

Dorgival Melo, 22, por exemplo, compete pela primeira vez no Recifitness e tem Arnold como ídolo. Ele descobriu a vocação quando começou a imitar os hábitos de um fisiculturista que seguia nas redes sociais. “Malhava desde os 16 anos. Como admirava o americano Jeff Seid, comecei a seguir suas dicas de treino e alimentação para tentar ter um corpo semelhante ao dele”, conta. Ele acredita que a categoria vem se tornando popular, desde que foi criada, em 2012, porque os corpos exigidos na competição são considerados atraentes.

“As pessoas nos vêem como exemplo. Elas queriam ser assim, a gente percebe. Mas por outro lado estranham nossa marmita de salada com peito de frango no trabalho”, conta o administrador, que atualmente analisa contratos na Secretaria de Educação do Recife e come peito de frango cinco vezes ao dia.

“Minha dieta-base é comer 1 quilo de peito de frango por dia. três vezes com salada e duas com arroz integral. Ainda tem uma refeição que é apenas um ovo cozido, logo quando acordo”, explica. “No sushi, com a turma do trabalho, como salada. Imagina a barra.”

Evandro Dantas, 21, é outro novo fisiculturista. Subiu no palco apenas uma vez, mas já percebe a diferença de tratamento das pessoas desde que começou treinar para competir. Sempre quis ser musculoso para se diferenciar na sociedade e hoje, ouve comentários elogiosos e sente-se satisfeito.

Paradoxalmente, abre mão de grande parte da vida social para manter o corpo atlético. “Direcionamos toda energia para o treino. Precisamos dormir bem, ter uma vida regrada. Isso quer dizer que não podemos mais sair para noitadas, por exemplo. Não dá para estar com uma turma e acompanhar o ritmo”, afirma.

Agora é que são elas

Quando venceu o Campeonato Norte-Nordeste de Fisiculturismo, a comemoração veio na forma de biscoito. Um pacote deles foi atirado para a vencedora, Larissa Santos, 25, logo depois do anúncio. O deleite foi ali mesmo, em cima do palco. A criação de novas categorias de fisiculturismo nos últimos cinco anos, com categorias menos masculinizadas, têm aumentado o número de adeptas.

A pernambucana começou a treinar em 2015, influenciada por atletas brasileiras famosas. Ela faz parte das novas atletas que têm trazido informação para as academias e ajudado a quebrar o preconceito. “Quando falei para minha mãe que seria fisiculturista, ela se assustou, perguntando se eu ia ficar ‘grandona’. Mostrei foto das atletas que admiro e ela se acalmou”, lembra a jovem, que comete na categoria Bikini. “A característica é ser magrinha e definida, podendo estar tanto na capa de uma revista como modelo quanto em uma de musculação”, explica.

O assédio, conta, é grande, mas diminui às vésperas das competições, quando entra numa dieta rígida para tornar o corpo mais seco. “É quando meu corpo diminui de tamanho. Depois, quando volto a comer carboidrato. Bumbum e coxa aumentam e fico com menos aparência de atleta”.

Paulo Trigueiro

Paulo Trigueiro

Repórter

Paulo reporta para o Diario há dois anos e boa parte das suas contribuições foram para a editoria de Local. O mais próximo que chegou do fisiculturismo foi escrever esta matéria – fora pagar 6 meses de academia e ir duas semanas, claro!

Rodrigo Silva

Rodrigo Silva

Fotógrafo e videografista