De Luiz Gonzaga a Jackson do Pandeiro: pernambucanos do manguebeat se voltam a tributos a mestres da música

Filhos do manguebeat, artistas pernambucanos trabalham em projetos paralelos em homenagem a nomes consagrados da música popular brasileira

 

A história começou espontaneamente. O músico pernambucano China, junto com os amigos da banda Mombojó, resolveram montar uma banda para animar uma festa de formatura de uma amiga. No repertório, canções que foram sucessos na década de 1960 – um tributo a Jovem Guarda. Resultado: a receita bolada para descontrair os amigos deu certo e se transformou em um dos projetos mais bem-sucedidos de tributos no estado. O grupo Del Rey viaja o Brasil reinterpretando os clássicos de Roberto e Erasmo Carlos. Além deles, estão nesse cenário artistas como Tibério Azul e Silvério Pessoa, nomes que se formaram ou foram influenciados pelo manguebeat e, em paralelo à carreira original, se dividem nas homenagens. Na lista dos homenageados, Luiz Gonzaga, Reginaldo Rossi e Jackson do Pandeiro dividem a liderança dos artistas mais tributados pela “geração que não esquece o passado”.

 

Nando Chiappetta DP/D.A.Press

Os projetos nasceram da mesma fonte: a busca por diversão entre amigos, e, claro, o reconhecimento de obras fundamentais da canção brasileira. “Cara, a trajetória da Del Rey foi tão sem querer. Mas revisitar o passado é muito importante, né? A gente aprendeu isso lá atrás, no manguebeat”, explicou China que, além da Del Rey, também participou de outros projetos. Em 2000, quando ainda fazia parte da banda Sheik Tosado, integrou o álbum Baião de Viramundo, uma idealização do percursionista Pupilo, da Nação Zumbi, que reinterpretou músicas de Luiz Gonzaga. O trabalho foi um ambiente de experimentação e reuniu nomes locais como Siba, Otto e Banda Eddie. “Foi uma parada que a gente nunca tinha feito. Pegamos Assum Preto e colocamos outra ideia nela. Ficou uma versão meio frevo, meio hardcore”, conta.

Alexandre Gondim DP/D.A.Press

Grupo tradicional do cancioneiro popular de Pernambuco, o Quinteto Violado também prestou homenagens ao rei do Baião, com o CD e DVD, lançado em 2013, “Quinteto canta Gonzagão”. Eles ainda homenagearam Adoniran Barbosa, Jackson do Pandeiro, Zé Marcolino e Geraldo Vandré.

Roberto Ramos/DP/D.A Press

Morto em 2013 vítima de um câncer no pulmão, Reginaldo Rossi foi bastante homenageado ainda em vida. Um dos principais projetos foi o álbum “Reiginaldo Rossi – um tributo, de 1999, do selo Magroove.

A coletânea reuniu artistas como Lenine, Banda Eddie, Lula Queiroga e a banda Cascabulho, grupo do qual o músico Silvério Pessoa fazia parte. A experiência nesse tributo colaborou para que, quase sete anos depois, Silvério formasse, em parceria com os amigos, o grupo Sir Rossi, um cover do rei do brega. 

Além do tributo a Rossi, Silvério Pessoa também segue com projetos solos direcionados para a obra de um compositor específico. Assim nasceu “Cabeça Feita”, álbum lançado no início de 2015 que trafega pelas composições de Jackson do Pandeiro. “Ninguém mais agradável e necessário do que Jackson do Pandeiro. Eu o ouvia muito na infância, em Carpina. Ele marcou bastante minha formação”, conta o músico, relembrando o álbum Micróbio do frevo, no qual realiza um mergulho nos frevos do paraibano.

Annaclarice Almeida/DP/D.A Press

Para Tibério Azul, os tributos são importantes para a condução da carreira de qualquer artista. Em 2006, ele ajudou a formar o grupo Seu Chico, que faz uma releitura das músicas de Chico Buarque com sotaque regional. “Eu não sou contra os tributos. Eles ajudam a estudar o caminho que vai ser trilhado. É reconhecer tanto quem está aqui ao lado, no momento, quanto quem veio antes e abriu o caminho”.

Afonso Bezerra

Afonso Bezerra

Afonso é estagiário do Diario desde 2014. Atualmente escreve para a editoria Local. É metido a mexer com violão, mas não faz uma graça sequer em relação aos medalhões da música pernambucana. Reverencia Luiz Gonzaga, mesmo dançando pouco forró: “Não sou nenhum Juscelino Kubtischek“.