Craur: Abandono de pessoas com deficiência muda função de abrigo

Rafael Martins/DP

A restituição familiar continua sendo o maior desafio da Comunidade Rodolfo Aureliano (Craur), no Recife, que, esta semana, recebeu seu 41º acolhido – uma criança de nove anos, da zona rural de Trindade, que passou parte da vida confinado pela família em um quarto por ter deficiência mental. Entres os acolhidos, hoje, há apenas três crianças e quatro adolescentes. A maior parte dos “abrigados”, todos com algum tipo de deficiência, atinge a maioridade e, sem ter para onde ir, continuam na instituição. Justamente por isso, o garoto sertanejo é um dos poucos a contar com esta possibilidade, uma vez que a equipe do abrigo tem como missão o acompanhamento e desenvolvimento da criança até que se determine o seu regresso ao núcleo familiar, que também deve ganhar orientações do CREA para recebê-lo de volta.

De acordo com a gestora do Craur, Delmesita Andrade Ferreira, um dos trabalhos da casa é a tentativa de impedir que os laços afetivos, quando existem, se rompam, uma vez que a maioria dos abrigados foi abandonada. “Ao ganhar uma criança especial, muitas famílias não sabem trabalhá-la. Quando não a trancam no quarto pequeno, acreditando, por ignorância, que as estão protegendo, deixam em praças, avenidas ou aqui. O agente vai atrás da família, tentamos fazer com que ela assuma a pessoa abandonada, o abrigo sempre vem em última instância”, conta, acrescentando que o resultado quase nunca é satisfatório. “Muitas vezes, o que conseguimos são visitas dos parentes. O objetivo é evitar que o juiz precise sentenciar a destituição do poder familiar”, completa.

Quando a família perde a guarda e o acolhido ainda é menor de 18 anos, ele entra no Cadastro Nacional de Adoção. Segundo Delmesita, contudo, há cerca de seis anos ninguém da casa é adotado pelo cadastro. “Aos que já atingiram a maioridade, ainda há a possibilidade de curatela, ou seja, a entrega dessa pessoa a outra que se disponha a ser seu pai ou mãe, um curador, que dará a ele direitos iguais aos de um filho”, elucida. Pessoas com necessidades especiais também têm direito a benefício do INSS, que pode ser entregue à família responsável. “Caso a família abra mão do beneficiário, o benefício também é perdido. O dinheiro segue para onde a pessoa com deficiência vai”, diz.

Aos que não são adotados nem recebem curatela, o Craur torna-se o único lar possível. A casa, no entanto, precisa de ferramentas para o desenvolvimento dos abrigados.

Rafael Martins/DP

Serviço

O que doar?
Alimentos não perecíveis
Roupas (masculinas e femininas)
Brinquedos
Onde doar?
Comunidade Rodolfo Aureliano
Endereço: Rua do Bom Pastor, s/n, Engenho do Meio
Telefone: (81) 3271-3950.
E-mail: comunidaderodolfoaureliano@hotmail.com

“Aceitamos doações, desde alimentos, até roupas, masculinas e femininas e faltam mais brinquedos”, lamenta a diretora. Para desafogar o trabalho com os “abrigados”, o Craur deve receber cerca de 18 novos cuidadores ainda em 2016.

Marília Parente

Marília Parente

Repórter

Rafael Martins

Rafael Martins

Fotógrafo