Crânio achado no Brasil pode mudar história da América

André Strauss/Reprodução

Um estudo publicado em março de 2017 na revista Science Advances pode mudar tudo o que se pensava a respeito da migração nas Américas. E tudo isso por causa de um crânio encontrado no Brasil – mais especificamente no sítio arqueológico Lapa do Santo, no município de Lagoa Santa, em Minas Gerais. A tese mais aceita atualmente é de que os primeiros humanos do continente chegaram há 15 mil anos, numa única onda migratória na América do Norte, se dispersando depois pela Costa do Pacífico em direção ao Sul. Contudo, análises morfológicas de crânios encontrados na região indicavam uma diferença incomum entre os povos sul-americanos e o de outras regiões. Essas diferenciações eram explicadas como efeito do posterior isolamento de diferentes grupos dessa primeira onda migratória – pois os grupos separados teriam desenvolvido assinaturas genéticas diferentes, o que está ligado diretamente ao formato do crânio.

Como amostras de DNA das chamadas populações “paleoamericanas” são raras, as pesquisas sobre seu desenvolvimento no continente baseiam-se em análises morfológicas de crânios fossilizados – pois, de acordo com os cientistas, o formato do crânio é influenciado pelo DNA, como informa o jornal O Globo. A maior parte das pesquisas procura similaridades entre fósseis e nativos sul-americanos modernos, mas os cientistas Noreen von Cramon-Taubadel, Mark Hubb e o brasileiro André Strauss, que conduziram o estudo, fizeram o inverso: analisaram os padrões apresentados por nativos modernos, encarando-os como possíveis descendentes de vários de uma árvore genealógica teórica e, através de métodos estatísticos, passaram a determinar aonde as amostras se encaixavam melhor.

Isso porque, como lembram os pesquisadores, nem todos os povos que estiveram nas Américas necessariamente deixaram descendentes – o que faria com que muitos dos nativos modernos tenham ascendência de outros povos que não aqueles que atravessaram o Estreito de Bering na primeira onda migratória. Assim, os cientistas acreditam que os primeiros humanos a chegarem às Américas, entre 20 e 15 mil anos atrás (no período do Pleistoceno), tenham contribuído pouco ou nada para nossa ancestralidade. E que os nativos americanos encontrados pelos europeus seriam descendentes de uma segunda onda migratória, que se deu entre 12 e 10 mil anos atrás (já no chamado Holoceno).

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