Caso de menino encarcerado em quarto movimenta autoridades de Trindade

A história do menino de nove anos de Trindade enclausurado pela família em um quarto do lado de fora de casa, na zona rural da cidade do Sertão do estado, chegará à Câmara dos Vereadores do município hoje. Também nesta terça-feira, o Creas, instituição municipal que lida com a proteção à infância, visitará a família do garoto, dando início ao planejamento de requalificação do núcleo familiar, visando um possível retorno da vítima à casa, no futuro. O caso ganhou repercussão após a publicação da matéria exclusiva do Curiosamente/Diario sobre a chegada do garoto ao Recife (leia aqui).

Na Comunidade Rodolfo Aureliano (Craur), no Recife, o garoto está sendo acompanhado por nutricionista e fonoaudióloga desde que chegou, na última sexta-feira (25), e aguarda a conclusão de seu Plano Individual de Atendimento, que norteia ações de acolhimento dos abrigados da casa. De acordo com a gestora do Craur, Delmesita Andrade Ferreira, o garoto passa bem e está sendo acompanhado pela equipe técnica. “Ele é um pouco levado, mas vem ficando mais tranquilo. Consegue, dentro de suas limitações, interagir com os funcionários, responder ao chamado de seu nome, por exemplo”, comenta. A alimentação do garoto já se baseia em uma dieta especial, concebida por uma nutricionista. Aos poucos, seu hábito de jogar a comida no chão, começa a ser trabalhado. “Uma fonoaudióloga também acompanha o processo alimentar e orienta uma equipe de educadores. Precisamos investigar sua deglutição”, coloca Delmesita.

Como não se acostumou a usar o banheiro, o garoto agora anda de fraldas. “Quanto ao fato de ele andar nu, é comum entre nossos abrigados em condições parecidas com a dele. Quando sentimos calor, não tiramos a roupa. Alguns deles, contudo, não têm esse discernimento”, completa Delmesita. Segundo a coordenadora da Gerência de Alta Complexidade, Viviane Wanderley, uma pesquisadora da Universidade Católica de Pernambuco, que estuda crianças não socializadas, chegou a procurar o Creas, para oferecer a ajuda no processo de auxílio à criança. “Só com o Plano Individual de Atendimento do menino pronto, saberemos quais serviços serão necessários. A rede de saúde dispõe de vários deles, não podemos afirmar se mais algum será requisitado”, comenta.

O Craur também revelou que um estudo de caso trará mais detalhamentos sobre o quadro do garoto. “Precisamos investigar se ele falará algum dia. Às vezes, o que faltou foi estímulo e, com isso, o menino pode avançar muito”, completa Delmesita. Em Trindade, o Creas Municipal acompanha a família, com o objetivo de educá-la para receber uma pessoa com deficiência e, consequentemente, torná-la apta a ter o menino de volta. “O planejamento que desenvolvemos para o trabalho com a família começa a ser posto em prática. Visitaremos para uma conversa inicial”, diz a assistente social do órgão, Aline Estefânia.

O presidente da Câmara dos Vereadores da cidade, Ubirajara Araripe, garantiu que o caso será discutido pela casa. O promotor do Ministério Público de Pernambuco que acompanhava a situação do garoto, Diógenes Moreira, só deve se pronunciar após o término de suas férias, no final desta semana.