Autistas tem audição melhor do que maioria das pessoas, afirma estudo

Wikivillage/Reprodução

Pessoas inseridas no espectro autista possuem uma audição melhor do que pessoas não-autistas. É o que afirma um estudo publicado na revista Cogntion, especializada em ciência cognitiva. De acordo com seus autores, pessoas com essa condição possuem uma maior percepção sensorial, que pode ser traduzida em maiores capacidades auditiva e visual.

Em artigo para o jornal The Independent, uma das autoras do estudo, a professora da University College London, Anna Remington, lembra que já há algum tempo, os pesquisadores perceberam que as diferenças sensoriais dos autistas não são incapacidades – ao contrário. Elas possuem uma maior acuidade tanto visual quanto auditiva.

Ela lembra que, em vários testes, autistas se mostraram mais capazes de perceber erros de continuidade em filmes e que muitos deles possuem o chamado ouvido absoluto, ou capazes de ouvir sons inaudíveis para outras pessoas, como a corrente elétrica passando pelos fios por trás de uma parede.

Remington afirma a explicação para isso estaria em uma maior capacidade dos cérebros das pessoas autistas de processar informações. Porém, em tarefas relativamente simples – como conversar com alguém, o cérebro acaba procurando outras informações para ocupar sua capacidade que não está sendo exigida naquele momento. Isso pode causar distrações ou mesmo fazer com que a pessoa se sinta sobrecarregada no ambiente. No caso da audição, por exemplo, ambientes muito barulhentos podem se tornar perturbadores pelo excesso de estímulos.

Para comprovar essa teoria, Remington e sua equipe realizaram alguns testes com autistas e não-autistas adultos. No primeiro deles, os participantes deveriam distinguir o latido de um cão e o rugido de um leão, em meio ao som de vários animais – além do som de um carro, que apareceu em metade das vezes. A professora afirmou que autistas se saíram muito melhor do que os não-autistas em identificar tanto os sons corretos dos animais quanto perceber o som do veículo.

Porém, o outro teste demonstrou o quanto a percepção aumentada pode causar distração. Nele, os participantes eram solicitados a escutar uma conversa de um grupo de pessoas que se preparava para uma festa; ao final, eles deveriam responder a perguntas sobre o que falavam as mulheres do grupo. Mas por várias vezes, um homem fantasiado de gorila entrava na sala, anunciando sua presença. Nesse caso, 47% dos autistas notaram a presença do homem, contra apenas 12% dos não autistas – de acordo com Remington, o esperado.

“Apesar de não podermos subestimar os desafios associados ao autismo, nosso estudo traz a percepção de um lado mais positivo dessa condição”, afirmou a professora. “Ao promover evidências das habilidades do autista, nós abraçamos a diversidade e colocamos por terra a visão tradicional de que o autismo está associado apenas a déficits.”

Gostou do conteúdo? Em nossa página tem mais: