Ajustes simples ajudam melhor idade a ficar cada vez mais conectada

por

Por interação com amigos e familiares, idosos têm aumentado laços com smartphones e redes sociais, contando com a ajuda dos mais jovens

 

A quantidade de celulares no Brasil ultrapassa o número de habitantes em 80 milhões – e a distribuição dos aparelhos compreende todas as faixas etárias, a ponto de dois em cada cinco idosos já fazerem parte do mundo dos smartphones. De acordo com a Ericsson ConsumerLab, 40% das pessoas na melhor idade utilizam celulares para conseguir falar com familiares ou navegar nas redes sociais. Ainda assim, a adaptação a esse tipo de tecnologia não é tão fácil para pessoas de idade avançada; dificuldade investigada pela ciência e apaziguada com o esforço de familiares, principais procurados na hora de ensinar os atalhos da vida tecnológica.

 

“Levou uns dois ou três meses até eu pegar os macetes, hoje eu uso o Facebook e o Whatsapp, leio e envio mensagem, acompanho as notícias”, conta a aposentada Maria da Guia, 81. Com a ajuda dos parentes, começou a navegar na internet e hoje acompanha até mesmo as notícias do mundo pelo Twitter. “Uso todos esses aplicativos com uma certa desenvoltura, mas quando tenho uma bronca maior corro para os meus netos ou filhos”, brinca.

Maria Eduarda Fernandes / Arquivo Pessoal

Também aposentada, Helena Duarte, 86, recorreu à ajuda de toda a família, mas ninguém deu jeito em ensinar a tecnologia. “Quando o telefone chamava eu não via, não atendia, quando ia procurar quem foi que ligou, também não acertava”, desabafa. Hoje, a comunicação à distância com Dona Helena só é possível por meio do telefone fixo.

No Recife, cursos tecnológicos já são fornecidos para a terceira idade, mas nenhum é voltado para o manuseio de smartphones. Uma oficina com nove horas de duração já foi idealizada por professores do Senac, mas nunca houve quórum suficiente. “Nas turmas de informática para a boa idade, os alunos falam da dificuldade em utilizar o celular para mandar mensagem no Whatsapp ou para ver o Facebook. A ideia foi fazer essa oficina para ajudar nas principais dificuldades”, explica o instrutor Carlos Eduardo Soares. Ele lembra que, com algumas dicas nos intervalos do curso de informática, já era possível ver a evolução e a felicidade de alguns alunos no uso do aparelho e na comunicação com familiares.

Como aprimorar smartphones para idosos

Aumentar a fonte do celular para facilitar a leitura de mensagens

fonte

Andoid: Ir em configurações > Acessibilidade > Visão > Tamanho da fonte (ou Texto Grande em outros aparelhos)
IOS: Ir em Configurações > Geral > Acessibilidade > Texto Maior (também há a opção de texto em negrito).

Excluir ícones não utilizados da área de trabalho

lixeiro

Assim, evitamos que cliques errados terminem em downloads não desejados ou confundam o usuário.
Como fazer: Segurar o ícone que deseja apagar na área de trabalho e arrastar até a lixeira, geralmente, na parte superior do visor

Configurar o volume

som
Aumentar o volume do aparelho, nos botões de controle de volume do lado esquerdo ou direito do celular, e o configurar com um toque alto, que chame a atenção do usuário quando receber uma ligação.

O contraponto de novas e velhas formas de comunicar

 

“Me divirto porque, com essa nova tecnologia, as pessoas da terceira idade vão se identificando, se atualizando com o resto do mundo”, afirma Socorro Barza, 78. A rejeição inicial do celular se converteu na diversão de olhar as redes sociais e, principalmente, se comunicar com os familiares pelos grupos do Whatsapp. “O velho geralmente vai ficando no esquecimento, com a tecnologia, a gente pode ir se comunicando de onde estiver”.

Uma das principais respostas encontradas por pesquisadores para justificar a dificuldade no manuseio dos eletrônicos por idosos é o fato de, quando jovens, eles terem recebido menos estímulos cognitivos no ambiente no qual viviam. O Efeito Flynn, fenômeno encontrado com a análise de testes de inteligência feitos ao longo de décadas, mostra a elevação nos números de QI da sociedade, justificada por esses estímulos externos. “Nessa nova sociedade de conhecimento, as pessoas de outras gerações são como estrangeiros, eles nunca vão falar a língua desse novo país da mesma forma que um ‘nativo digital’, com a naturalidade e até mesmo respirar a tecnologia desse jeito”, explica o professor do departamento de ciências administrativas da UFPE e psicólogo cognitivo Bruno Campello.

Para os “estrangeiros”, adaptando-se ou não, resta a experiência de vida e os conselhos dados aos mais jovens: cuidado com o vício! “No começo, eu fiz uma objeção ao celular porque ele tomou conta das pessoas, ninguém chamega mais, só fica no celular. Nos restaurantes, as pessoas não conversam mais, nos bares, ninguém conversa mais”, lamenta Dona Socorro.

Lorena Barros

Lorena Barros

Repórter

Lorena é estudante de jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco. Escreve para o Diario desde maio de 2016, na equipe de dados do jornal, do projeto CuriosaMente.

Nando Chiappetta

Nando Chiappetta

Fotógrafo

Nando é o fotógrafo ítalo-brasileiro do Diario de Pernambuco.