A vida de plástico numa das mais antigas floriculturas do Recife

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Aos 85 anos, Floricultura Pernambucana é uma das mais antigas empresas do estado e se reinventa há quatro gerações

 

As flores de plástico não morrem. Nem por isso não são trocadas. “Ainda bem, é bom pro negócio”, brinca Cláudio Campelo, gerente da Floricultura Pernambucana, especializada em flores artificiais, uma loja de 85 anos de idade, aos “pés” da ponte de ferro do Recife, na Rua Doutor José Mariano, no bairro da Boa Vista.

Quase nove décadas de existência e já na quarta geração da família Campelo. O ponto teve como primeiro dono o tio-bisavô de Cláudio. Depois dele, vieram o tio-avô, o avô e, atualmente, o pai. “E do meu pai, passará para mim e para meus irmãos”, prevê. A surpresa será se não for assim.

Nando Chiappetta/DP

Cláudio já cursou administração para isso. Desde os 18, trabalha na loja. Atualmente, aos 23 anos, virou “Seu Cláudio” para os sete funcionários. Certamente, quem já passou perto da Rua da Aurora -, praticamente à beira do Capibaribe, observou uma loja com paredes de vidro e várias flores na decoração e na vitrine. O aspecto não é por acaso. É uma mostra do que se encontra ali. O cenário é repleto de flores, de dezenas de “espécies”. São plantas, caqueiras, vasos, argila, areia de diversas cores, além dos ornamentos já montados. “Saem mais caro, mas as pessoas acabam levando para não correr o risco de errar num arranjo”, explica Campelo.

O negócio começou em 1930. Daquela época até 1980 a venda era de flores “de verdade”, como o nome sugere. Nos anos 1990, as flores vivas deram lugar às desidratadas e, depois, o espaço foi ocupado pelas artificiais. Milhares delas. Em milhares também foram contabilizadas as vendas, tanto que o negócio cresceu e deu origem a uma segunda unidade, no bairro da Macaxeira.

Somente no Dia das Mães de 2015, foram 30 mil unidades de rosas. Sem contar lírios, girassóis, tulipas, margaridas, orquídeas, antúrios, dálias. Outras épocas também reservam um “boom” de vendas – final de ano é uma delas. “Acho que ajuda a deixar a casa mais bonita. Costumo vir no final de ano para renovar as flores”, explica a dona de casa Rita de Cássia.

Se em um momento a justificativa é a renovação dos ares, na outra data o sucesso se deve à lembrança. Na proximidade do Dia de Finados, as vendas também crescem. “As pessoas dizem que não vale a pena comprar as de verdade porque são mais caras e acabam roubadas nos cemitérios. As artificiais dão beleza e são mais em conta”, explica Campelo.

Certamente no mesmo lugar e provavelmente ainda com os Campelos, a Floricultura Pernambucana deve continuar como uma das tradições do Centro do Recife. Isso enquanto persistir a contradição de, com o que não tem vida, exista quem queira querer dar vida a um ambiente.

Nando Chiappetta/DP
João Vitor Pascoal

João Vitor Pascoal

Repórter

João é estagiário do Diario desde 2014, a maior parte do tempo para a editoria de Política, antes de fazer parte do projeto CuriosaMente, da editoria de dados do jornal. Conviveu com flores de plástico decorando a casa das tias e da avó.

Nando Chiappetta

Nando Chiappetta

Fotógrafo

Nando Chiappetta é o fotógrafo ítalo-brasileiro do Diario. É admirador do Centro da cidade, das grandes histórias escondidas nela e prefere flores naturais, de todas as cores – em fotos ou reais.